Cinco casos de fraude científica – incluindo plágio e fabricação de dados – foram divulgados na terça-feira, 7, pela Fapesp, fundação pública que financia a pesquisa científica no Estado de São Paulo. Desde o lançamento do Código de Boas Práticas Científicas, em 2011, é a primeira vez que a instituição expõe conclusões de investigações. A divulgação das fraudes deve continuar, conforme forem apuradas. A medida é inédita no Brasil.
Os casos publicados envolvem os pesquisadores Andreimar Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (USP), Cláudio Airoldi, do Instituto de Química (Unicamp), Flávio Vilela, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (USP), Javier Amadeo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), e Antonio José Balloni, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer. A Fapesp estabelece que o sumário dos casos ficarão expostos publicamente de três meses a cinco anos, dependendo da gravidade da violação de boas práticas científicas.
Os pesquisadores acusados foram procurados pela reportagem. Javier Amadeo, atualmente professor da Unifesp, disse que não houve má conduta científica, mas um erro de citação (leia mais abaixo). Cláudio Airoldi não quis comentar, Antonio José Balloni não havia respondido e-mail até as 21 horas e os outros não foram localizados.
Para Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a iniciativa da Fapesp de divulgar os casos investigados é correta. “Uma vez que foi dado direito de ampla defesa aos acusados, acho que a Fapesp tem a obrigação social de divulgar esses casos, já que ela financia a pesquisa com recursos públicos”, disse. Segundo ela, além de contribuir para coibir as fraudes, a divulgação das irregularidades é uma maneira de mostrar ao contribuinte que o uso dos recursos públicos está sendo fiscalizado. “É preciso defender a integridade científica acima de tudo.”
O código da Fapesp determina a investigação rigorosa de denúncias de fraude e prevê que seja feita sob sigilo, para preservar a reputação dos suspeitos. Mas, quando a má conduta é comprovada, para coibir esse tipo de prática, a Fapesp expõe publicamente as conclusões do processo, divulgando os nomes, instituição dos pesquisadores, a descrição do trâmite e a punição imposta.
De acordo com o pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), José Eduardo Krieger, a instituição apoia a iniciativa e também tem mecanismos para evitar a fraude científica. “Mas a notoriedade transitória dos raros casos de fraude científica não pode ser confundida com o sucesso e os resultados do ensino da USP.”
Mãos erradas
Sérgio Pena, um dos autores do guia Rigor e Integridade na Condução da Pesquisa Científica, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), afirma que a iniciativa é excelente para a ciência brasileira. “É importante que os recursos para pesquisa não caiam em mãos erradas. A divulgação dos nomes ajudará a coibir as violações de boas práticas”, disse. Ele acredita, no entanto, que as investigações atingirão apenas uma pequena parte das fraudes.
Martha Sorenson, da Câmara Técnica de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o procedimento de exposição dos casos é uma forma de proteger a ciência e melhorar a percepção do público em relação a ela.
“A ciência depende da confiança do público. Quando todos começam a achar que as fraudes são comuns, essa confiança é abalada e teremos menos apoio para recursos”, afirma Martha.
Fonte: A Tarde