Precisamos expor o puerpério

No final de semana que passou recebi dois telefonemas-desabafo de amigas (recém tornadas mães) desesperadas com questionamentos, comparações e, é claro, a pergunta: para você foi assim difícil também?

Por Julia Harger, do Vegana é a sua Mãe

Foi. Logo que a Dominique nasceu eu me dividia entre dar a atenção que ela exigia e contactar minhas amigas que recém tinham se tornado mães, às vezes ficava exageradamente focada no segundo. Mas eu precisava ouvir delas que tudo aquilo que eu sentia e passava era normal, precisava de amparo emocional para lidar com sentimentos, dores e tamanho cansaço que eu jamais imaginei que poderia ter.

Acho questionável e extremamente perigoso a maneira como a sociedade (e mídias sociais, óbvio) endeusa a maternidade como se, no momento em que damos à luz, uma mágica apaixonada acontece que todas as nossas próprias necessidades e vontades são simplesmente apagadas quando pegamos nosso bebê no colo pela primeira vez. Que a partir daí estaríamos realizadas e completas simplesmente por sermos mães, como se essa parte escura de questionamentos, frustrações e dores simplesmente não existisse.

Sim, eu me apaixonei pela Domi quando a vi. Mas os dias que seguiram o parto foram dias de luto. Luto pois aquela mulher que eu era antes nunca mais poderia ser a mesma. Aquela mulher precisou ser – fisicamente e psicologicamente – recriada, transformada, redescoberta e as suas vontades, sonhos e necessidades também. Claro, quando me preparava pra ser mãe imaginava isso… Mas nao imaginava o grau de dificuldade da transformação justamente por essa dor não ser devidamente exposta e falada como deveria ser.

O fato de esse lado difícil ser escondido pela sociedade ainda piora pois além do luto que estamos sentindo, vem a culpa. “Todo mundo diz que a maternidade é a melhor coisa do Mundo, por que é que eu não estou sentindo isso?”….Sentimos  não estar correspondendo ao que todos esperavam de nós como mães (ou do que nós mesmas esperávamos da nossa “versao mãe”).

Claro que bebês sao diferentes, alguns dormem mais e choram menos, alguns dormem pouco de choram muito, uns tem colicas outros nao… mas todos precisam de 100% da gente. De amor, paciência e atenção suficiente para exigir que esqueçamos nossas vontades e necessidades próprias. A Domi exige bastante de mim e somando ao fato de que estou longe de mãe, sogra ou de qualquer familia que poderia ajudar (e tenho um marido que alem de ser mestrando, tem dois trabalhos), a fase foi bem pesada. Ta sendo.

Precisamos urgentemente mudar a forma como essa fase árdua da maternidade é exposta, precisamos falar mais sobre o puerpério. Eu escrevi um texto sobre a fase e recebi muito apoio, muitas mensagens com empatia e “Obrigada por me fazer sentir normal”. Eu também agradeci quando as recebi por saber que nao há nada de incomum ou errado em tudo que eu senti.

A solução está nas nossas mãos, sociedade. Para as puerperas, que demos o devido apoio, o amor, a empatia que elas precisam. E quando conversar com futuras mamães, que tragamos isso em pauta para que saibam que o processo é normal e passa, assim quem sabe podemos aliviá-las da possível culpa que sentiriam. “O pós parto me esta doendo mais que o parto”, uma delas me falou no telefone e nao há melhor comparação. Pois então que gastemos menos tempo preparando nossas mulheres futuras mães para o parto e mais para o puerpério.

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