Projeto tenta minimizar evasão escolar na Maré

Nenhum a Menos desenvolve oficinas que contribuem para a reinserção de crianças e adolescentes no ambiente de estudos. Atualmente, 7,7% dos moradores do conjunto de favelas com idades entre 6 e 14 anos estão fora da escola. Projeto é desenvolvido pela Redes da Maré, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna

No, Brasil 247

Foto: Silvia Noronha/ Divulgação

 

Levantamento da organização da sociedade civil Casa Fluminense mostra que 7,7% dos moradores do conjunto de favelas da Maré com idades entre 6 e 14 anos estão fora da escola. Para contribuir com a reinserção dessas crianças e adolescentes, a Redes da Maré criou o projeto Nenhum a Menos, que desenvolve oficinas de Complementação Escolar, Audiovisual, Contação de Histórias e Letramento, Desenho e Criação, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna. O projeto, que teve início em agosto, pretende atender 50 crianças e adolescentes em atividades diárias, sendo 25 na parte da manhã (crianças) e 25 no turno da tarde (adolescentes). “Nosso objetivo é desenvolver uma alternativa local que busque entender e atuar sobre as razões que levam ao abandono da escola, oferecendo um trabalho pedagógico para ajudar a manter os vínculos com a escola e a aprendizagem formal, bem como auxiliar os órgãos públicos na criação de uma rede de proteção a essas famílias”, explica Ines di Mare, coordenadora do projeto, em matério do jornal Maré de Notícias.

 

Por Fabíola Loureiro e Silvia Noronha, para o Maré de Notícias

Nenhum a menos na escola

Complementação Escolar, Audiovisual, Contação de Histórias e Letramento, Desenho e Criação são oficinas oferecidas pelo projeto Nenhum a Menos, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna.

Realizado pela Redes da Maré, o projeto pretende contribuir para a reinserção de crianças e adolescentes que hoje estão fora da escola.

Segundo levantamento da organização da sociedade civil Casa Fluminense, 7,7% dos moradores da Maré com idades entre 6 e 14 anos estão fora da escola. De acordo com a instituição, a evasão é maior nas favelas cariocas do que em bairros como a Tijuca, onde 2,2% estariam nessa situação. Na Rocinha, o problema atinge 17,1% dos moradores nessa faixa etária e no Jacarezinho, 14,5%.

O projeto, que teve início em agosto, pretende atender 50 crianças e adolescentes em atividades diárias, sendo 25 na parte da manhã (crianças) e 25 no turno da tarde (adolescentes). Nos anos 2000 houve uma primeira versão desse mesmo projeto, que também atuou junto às famílias.

“Muitas vezes o estudo é abandonado antes de o aluno ter aprendido a ler e escrever. Nosso objetivo é desenvolver uma alternativa local que busque entender e atuar sobre as razões que levam ao abandono da escola, oferecendo um trabalho pedagógico para ajudar a manter os vínculos com a escola e a aprendizagem formal, bem como auxiliar os órgãos públicos na criação de uma rede de proteção a essas famílias”, explica Ines di Mare, coordenadora do projeto.

Além das oficinas, há uma equipe de assistentes sociais que acompanham as famílias. O objetivo é construir uma rede de apoio social, de modo que haja condições para a frequência na escola com aprendizagem.
Evasão escolar

A evasão escolar se dá por conta de vários motivos, entre eles, a relação entre aluno e professor e o fato de algumas famílias não verem a escola como importante para os filhos. Há também famílias para as quais o trabalho impede de levar os filhos à escola e há crianças que precisam cuidar dos irmãos mais novos.

Maria dos Prazeres, moradora da Maré, precisou fazer uma viagem para a Paraíba e levou suas filhas mais novas, uma de 13 e a outra de 9 anos. Ela contou que antes de viajar estava tudo certo com a matrícula das filhas, mas quando voltou e foi até a escola, ficou sabendo que deveria ter feito a pré-matrícula pela internet e que o prazo já tinha passado. Como não tinha vaga, suas filhas estão passando este ano de 2014 fora da escola.

Ambas, porém, estão estudando em projetos educacionais, uma delas no Nenhum a Menos. “Não sei ler, mas sempre falo para os meus filhos estudarem, pois é necessário. É um bem que ninguém tira”, reconhece ela.

Em outras áreas da cidade está sendo desenvolvido o projeto Aluno Presente, uma parceria da Fundação Educate a Child, a Associação Cidade Escola Aprendiz e a Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura do Rio. O objetivo é chegar a quase 100% dos alunos na escola até 2016.
Faltar demais às aulas também é ruim

No Ciep Elis Regina, na Nova Holanda, são raros os casos de alunos que abandonam a escola no meio do ano: não chega a 1%, segundo a diretora Suely Josefa de Lima Carvalho. “Situações de abandono são raras, em geral provocadas por famílias que vão passar uma temporada em casa de parentes ou retornam temporariamente para o Nordeste. Nossa principal demanda, na verdade, é combater as faltas. Os infrequentes chegam a cerca de 15% dos alunos”, revela ela.

O Ciep trabalha o ano todo na tentativa de manter os estudantes em sala de aula. A cada bimestre uma lista de infrequentes é divulgada no portão da escola e os responsáveis são procurados até em casa, se for preciso, para serem comunicados sobre as faltas do filho. Isso porque nem todos os responsáveis sabem o que está acontecendo.

“Muitas mães chefes de família precisam sair cedo para trabalhar e deixam os filhos sozinhos, precisando acordar e se arrumar para escola sem a supervisão de um adulto, ou seja, as crianças são colocadas numa situação de independência precoce”, explica Suely. Muitos acabam não acordando e começam a faltar. Por isso, a escola se esforça para manter os pais sabendo. Quem tem bolsa família, por exemplo, pode perder o benefício, e isso é deixado claro para todos.

“Quando falamos com os responsáveis, a situação melhora. Se não fizéssemos esse trabalho o tempo todo, o número de infrequentes seria bem maior. São poucos os casos em que a mãe não toma uma atitude após receber nosso contato”, conta Suely.

Mas para a diretora, o ideal é um número mínimo de faltas. Legalmente é permitido faltar a 25% dos dias letivos e o abandono é considerado para os que não comparecem por 30 dias seguidos, porém a infrequência é um dos motivos que levam ao baixo desempenho do aluno, conforme observa Suely.

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