Quando o futebol vai lutar contra a homofobia?

Nos últimos anos, o cerco ao racismo no futebol apertou. Acompanhamos a punição de clubes e torcedores. Por mais que ainda aconteça, ofender uma pessoa por conta da cor da pele não é mais tolerável nos gramados e arquibancadas. Por outro lado, quando os xingamentos e o preconceito atinge a orientação sexual, há um retumbante silêncio, uma naturalização na homofobia. É natural chamar árbitros, atletas e torcedores de veados.

Do Soujec

Isso pode ser comprovado por uma recente moda que pegou nas arquibancadas de diversos estádios pelos país. Quem acompanha o futebol já deve ter, em algum momento, escutado o grito “ooooooo bicha”, entoado todas as vezes em que o goleiro adversário vai bater o tiro de meta. A “novidade” foi trazida ao Brasil pela torcida do México durante a Copa do Mundo de 2014. Os mexicanos gritavam “oooo puto”, que é o mesmo que bicha.

O que deveria ser um ato condenado por todos torna-se, no contexto do jogo, um mantra, um artifício natural utilizado pela torcida para tentar desestabilizar o rival. Assim como em todos os lugares, a homossexualidade vira argumento para desmerecer o outro.

Em Joinville, na Arena, não é diferente. Toda as vezes que o goleiro vai repor a bola, os torcedores que sentam atrás do goleiro fazem ecoar o grito de bicha. A homofobia é tão naturalizada que as pessoas não param para pensar nem mesmo no público homossexual que frequenta o estádio. Não há o mínimo de empatia. No fim das contas, é como se fossem invisíveis.

Outro problema dessa naturalização se reflete dentro de campo. Não podemos ser ingênuos de imaginar que não há homossexuais no futebol. Eles existem, porém, a cultura do futebol impede que eles se assumam. Esses atletas não encontram um ambiente seguro e acolhedor para exercer livremente a própria sexualidade. Algo parecido aconteceu com os negros no começo do futebol, que eram impedidos de defender os clubes.

As pessoas vão acabar dizendo: “ah mas é brincadeira, não pode falar mais nada agora”. Se for homofóbico e ofender alguém, não pode mesmo ou, pelo menos, não deveria ser permitido. A punição exemplar aplicada aos racistas deveria ser empregada também a quem ainda xinga com base na orientação sexual.

Agora, tão pior quanto essa atitude dos torcedores é o silêncio da diretoria. É uma obrigação da diretoria tornar o estádio um ambiente acolhedor para toda a torcida. Além do mais, o clube perde a oportunidade de se posicionar publicamente contra a homofobia, ressaltando que respeita todos e todas. Existe a campanha contra o racismo no Estadual deste ano, mas aliado a isso quero muito ver um dia o enfrentamento em relação ao machismo e à homofobia. É um passo fundamental para tornar o futebol mais democrático.

¡Unamos fuerzas en pro de la diversidad, #Incondicionales!Entérate cómo: http://goo.gl/yPQsBq#AbrazadosPorElFútbol

Publicado por Selección Nacional de México em Terça, 29 de março de 2016

A prova de que é possível combater a homofobia no futebol foi dada pela Confederação do México, que iniciou uma campanha para pedir o fim do tal grito de “puto”. Há até alguns jogadores que aparecem no vídeo reforçando o pedido. Além disso, a Fifa também já puniu algumas seleções por conta de xingamentos homofóbicos.

 

Texto enviado por Alexandre Perger
Jornalista formado no Bom Jesus Ielusc. Fanático torcedor do Joinville, desde o saudoso tempo do Ernestão. Um sujeito que detesta o futebol moderno e que sonha em ver esse esporte devolvido ao povo.

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