Do que precisamos

(Foto: Lucíola Pompeu)

Por Fernanda Pompeu

Por longos anos acreditei que era possível falar em nome das mulheres. Saber o que era melhor para elas. Por exemplo, ter independência financeira, compartilhar das mesmas oportunidades oferecidas aos homens etc. Hoje, sigo apostando nessas mesmas premissas.

Mas há uma diferença! Não acredito que as mulheres usem uma única régua da felicidade. Assim como os homens, as mulheres são diversas entre si. Nem todo homem quer ser o tradicional provedor e nem o chefe da família. Nem toda mulher quer deixar a casa para ir ao mercado de trabalho.

Antes, eu menosprezava as donas de casa. Não conseguia compreender as mães full-time.Comungava com a ideia de que a vida privada era menor do que a vida pública. No fundo, tinha a ilusão de que a História coletiva teria mais relevância do que as histórias de cada um.

Agora entendo que a História (com H maiúsculo) é também uma narrativa do poder. Uma vez que elege alguns notáveis a serem perpetuados e empurra importantes participantes para atrás dos panos. Gente que lutou, se sacrificou, se prejudicou e que, na maioria das vezes, entra nas ostras do esquecimento.

Anos de estrada – ora lisa, ora esburacada – abriram meus sentimentos para novas percepções. Por exemplo, a do reconhecimento da incrível trajetória da minha mãe. Na maior parte do tempo, ela trabalhou como dona de casa. Uma mulher do lar, como diziam no passado.

Em algumas ocasiões, me considerei mais “inteligente” do que ela. Afinal havia me libertado das lidas domésticas, da criação de filhos, da dependência econômica. Puxa, havia me tornado uma pessoa mais interessante.

Entretanto, ainda em tempo, descubro que a vida não é preto no branco e muito menos a aparência das coisas. A vida interior – o mundo íntimo – da minha mãe é incomensurável. Ela que apenas completou o ensino fundamental e criou seus cinco filhos.

Em contrapartida, eu procuro com os meus escritos uma relevância pública. Não tenho me saído tão mal. Reconheço o que construí a duras canetas. Por exemplo, prezo o espaço deste Blog e agradeço aos meus leitores a atenção, paciência e comentários.

Mas de forma nenhuma um trabalho fora das tarefas do lar me torna uma mulher mais interessante do que os milhões de donas de casa do mundo. A vida de qualquer pessoa não se mede com a fita métrica do ofício, da renda, do público.

Fonte: Yahoo 

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