O silêncio de chumbo dos diversos segmentos do Movimento Negro frente à reforma ministerial flagra um retrocesso da luta contra o racismo no Brasil.
Por Helio Santos via Guest Post para o Portal Geledés
Tal silêncio se estende também aos estados da federação. Em 27 estados, secretários e secretárias serão mantidos ou trocados em função das eleições ocorridas neste ano.
Num passado ainda não tão distante – 10/15 anos atrás – se reivindicava a ida de negras e negros para o primeiro escalão – isso vale para o plano municipal, estadual e federal. Aos poucos esse tipo de reivindicação foi se esmaecendo em benefício de cargos ofertados para os escalões operacionais dos governos.
No plano federal, num determinado momento do governo Lula, chegou-se a ter 5 postos ministeriais – dos quais 3 eram ocupados por mulheres.
Neste momento, antes de focarmos na SEPPIR, dever-se-ia pensar em pelo menos 2 outros ministérios cruciais para a luta pela equidade racial: o do Trabalho e o da Educação. Penso ser desnecessário aqui explicar o porquê dessas duas estratégicas áreas.
Seria uma justa reivindicação. Mais: tem-se nomes mais do que credenciados para ocupá-los.
No Ministério do Trabalho, por exemplo, no próprio partido da presidenta, há personalidades cuja legitimidade ninguém ousaria questionar – me refiro à lideranças sindicais conhecidas e reconhecidas.
Na Educação não é diferente: temos um grupo de educadoras – para ficar no campo feminino – apto a ocupar todos os níveis daquele ministério. Reitoras, vice-reitoras, pro-reitoras e ex-dirigentes que atuam em diferentes áreas do conhecimento.
Ao reivindicar esses estratégicos postos, mesmo não sendo atendido, o segmento negro se credenciaria para intervir na gestão. Estou aqui falando de algo comezinho no setor público: quem não se coloca se distancia das esferas de decisão com prejuízos que serão colhidos depois dramaticamente pelo nosso povo.
Quanto à SEPPIR – onde todas e todos se focam –, há no País um leque amplo de talentos (mulheres e homens) em condições políticas e intelectuais de ocupar aquela pasta.
Hoje, em minha opinião, a manutenção da ministra Luiza Bairros se coloca como a melhor possibilidade para o desenvolvimento da equidade racial no País. Esse ponto de vista se escuda no que foi feito até aqui pela presente gestão e nas possibilidades que temos no segundo mandato da Presidenta Dilma Roussef. Entendo que é um momento de ampliar e consolidar ganhos, trazendo ao mesmo tempo novas demandas até então não colocadas com a força necessária – como, por exemplo: o financiamento de iniciativas negras para o 2o e 3o setores e na área de tecnologia da comunicação em todas as suas múltiplas vertentes. Penso ser mais fácil avançar com a experiência e dedicação apresentadas até aqui pelo reconhecido quadro do Movimento Negro, Luiza Bairros.
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