Réu que tentou espancar até a morte e atropelou ex em MS pede perdão em julgamento: ‘Fiquei cego na hora’

Promotor Douglas Oldergado mostra pé-de-cabra usado para agredir Bruna — Foto: Graziela Rezende/G1 MS

Crime foi em novembro de 2017. Acusado está preso desde então.

Por Graziela Rezende, G1

Promotor Douglas Oldergado mostra pé-de-cabra usado para agredir Bruna — Foto: Graziela Rezende/G1 MS

A vítima, anônima em meio a plateia, ouviu cada barbárie e relembrou os momentos de terror que passou ao lado do ex, Gustavo Portilho Soares, de 29 anos. Ele, que confessou durante julgamento na manhã desta quarta-feira (10), parte das agressões que quase mataram Bruna Oliveiranesta manhã (10), disse estar arrependido.

“Realmente estou arrependido do que fiz. Vejo minha mãe aos 70 anos sofrendo, meu pai com problemas no coração e, ao mesmo tempo, lembro que a família dela me acolheu tão bem. Nenhuma mulher deve ser agredida da forma que foi”, disse Gustavo.
Na cadeia desde logo depois do crime, na mandrugada de 4 de novembro de 2017, ele ressalta que se tornou evangélico e fala ainda dos 7 anos e meio ao lado da companheira que, nas palavras dele, “mais amou na vida”.

”Minha intenção não era agredi-la. Quando a vi defendendo ele, fiquei cego na hora. Antes, uma das nossas brigas foi porque eu fiz uma busca no Facebook dela e vi que ela viu o perfil do ex-namorado”, comentou sobre o motivo que o teria levado a agredir a então ex-companheira.

Julgamento de Gustavo, de camiseta branca, no Tribunal do Júri — Foto: Graziela Rezende/G1 MS

A acusação, no entanto, fala do relacionamento abusivo. “Ele mesmo disse: eu tinha várias namoradas, mas, eu não aceitava o dela. O casal estava separado e ele não aceitou o fim, sendo que invadiu a casa dela durante a madrugada, com a intenção de conferir se ela realmente tinha alguém”, alegou o promotor Douglas Oldergado.

Durante o julgamento, foram exibidos vídeos com o depoimento da vítima, além de um dos militares que atendeu a ocorrência e fotos das lesões no crânio, braço quebrado e ainda manchas de sangue por onde ela passou e pediu socorro.

“Eu fui agredida com capacete, chutes, socos, pancadas na cabeça, pé de cabra, além do atropelamento. Na minha rua, acho que todas as portas ficaram sujas de sangue, porque saí correndo e pedindo socorro. Mas, ele me perseguia de moto. Houve um momento em que cai na avenida já com o braço quebrado, desisti e fechei os olhos”, relembrou emocionada.

Condenado
Gustavo Portilho Soares já tem duas condenações por violência doméstica, de acordo com a acusação, por agressão contra outra companheira.

Dia de combate
Em meio ao público, estava presente a titular da Subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para as Mulheres, Luciana Azambuja. “Nosso trabalho é de estar presentes em escolas, realizar palestras para que outras mulheres não sejam vítimas como ela [Bruna] foi. É uma pessoa com legitimidade para falar sobre o assunto e é muito bom tê-la conosco, comprometida. Eu vinha a acompanhando e ela disse que, dias antes deste julgamento, estava vomitando, chorando, mas, sabia que seria um marco na vida dela, então precisava vir”, explicou.

De acordo com Azambuja, o contato com Bruna tornou um pouco dela a história. “É uma guerreira, uma lutadora. Agora, ela continua sendo acompanhada por psicólogas. A defesa, agora há pouco, chegou a falar em legítima defesa da honra, discussão de décadas e que inclusive resultou em movimentos como Quem Ama Não Mata. Por tudo isto, a luta tem que continuar”, argumentou.

Ana José Alves, de 62 anos, faz parte do movimento feminista negro há 23 anos e busca fortalecer a mulher, tanto a negra como vítima da violência ou ambos os casos. “Nós fazemos um trabalho preventivo e educativo e de conscientização. Muitas mulheres, na periferia, não denunciam o companheiro até por uma questão de localização, moram muito longe da Casa da Mulher Brasileira, por exemplo. Por isto, nós reforçamos a ligação para o 190 e a denúncia dos crimes”, finalizou.

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