Sejamos honestos as ruas são preciosas demais para abandoná-las aos perversos

FONTEPor Deivison Nkosi, do Kilombagem
Crédito: Reprodução/Twitter @georgegalloway

ESTAMOS VIVENDO UM DAQUELES MOMENTOS HISTÓRICOS DECISIVOS. Aquele ponto a partir do qual, nada mais será como antes. A pergunta que está aberta neste momento é qual a intensidade da piora ou se há chances de reverter o jogo: um governo genocida, miliciano e corrupto, eleito por fake news, que opta por boicotar medidas sanitárias diante de uma crise pandêmica sem precedentes (levando milhares à morte); aproveita a comoção para privatizar bens públicos e legalizar a grilagem de terras indígenas e áreas de proteção ambiental; um governo perverso que tem um projeto de ultra-direita que caminha declaradamente na direção de um recrudescimento antidemocrático, amparado pelos já conhecidos (e nunca sancionados) militares brasileiros e um empresariado que tem saudades da escravidão .

ATÉ ANTES DE ONTEM, a principal oposição política à essa calamidade era composta pelo Dória (da pior facção do PSDB), o Witzel (que atirava na favela, de helicóptero) e a Rede Globo (que dispensa comentários). ESTÁVAMOS FORA DO JOGO, assumamos! Em parte porque preocupados com as medidas de contensão “ficamos em casa” conectados isoladamente; em parte porque destroçados, fragmentados e acuados pelas últimas derrotas… mas a história não cansa de surpreender (“a quem nada dela entende”).

ONTEM, destemidos JOVENS NEGROS no Rio de Janeiro, em memória aos mortos pela polícia (sob o calor das chamas negras ao redor da Withe House) e corajosos TORCEDORES ANTIFASCISTAS organizados, em São Paulo, nos lembraram uma preciosa lição: as ruas são preciosas demais para serem abandonadas e, em alguns momentos, arriscar-se em defesa da vida é mais nobre do que entrega-la à morte certa (pela Covid19, pela polícia, pelo desemprego, pelo sub-emprego, pelo descaso, pela invisibilidade e a angustia de um luto impossível…).

ESTAMOS POR NOSSA PRÓPRIA CONTA, mas talvez, HOJE, PARA QUE HAJA UM AMANHÃ o “Nós por nós” tenha de ser ampliado em novos pactos que extrapolem os antigos “pactos narcísicos” que até então orientaram a branquitude institucionalizante na esquerda brasileira. Essa ex-querda amante da ordem (violentamente racista, genocida e precarizadora da vida), que muitas vezes, preferiu o acordo ao invés do incêndio à “casa grande” precisa ser superada, redefinida, re-nascida, mas não o será se o “QUILOMBO” não descer e fizer dessa uma tarefa sua, seja lá que nome quiser dar para a rebelião.

Talvez o próximo passo seja ampliar as alianças e começar a discutir que amanhã queremos, mas para isso, é urgente aperfeiçoar as táticas de protesto: incluir máscaras obrigatórias e distância mínima nos atos podem ser uma opção, mas ficar acuado e limitado apenas ao “virtual” enquanto o ordem (neo)colonial violenta avança a passos largos no mundo real, deixou de ser a única opção.

“Nós nos revoltamos simplesmente porque, por muitas razões, não podemos mais respirar” Frantz Fanon

Imagem: Luciano Belford (Ato Vidas Negras Importam no Rio de Janeiro, 30 de maio, 2020)

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