Marina: Sem conexão

Por: Hugo Marques e Fabiana Guedes

A estratégia de Marina Silva de repetir o sucesso de Obama na arrecadação via internet só serviu para mostrar que Brasil e Estados Unidos continuam países muito diferentes

 

ELITE
Em busca de dinheiro para a campanha, Marina
participa de encontro com socialites paulistanas

Inspirada na campanha do presidente americano, Barack Obama, a candidata Marina Silva, do PV, apostava em levantar muito dinheiro pela internet. Obama recebeu doações de mais de três milhões de eleitores, com uma arrecadação que atingiu US$ 500 milhões. Primeira candidata da história da política brasileira a tentar arrecadar dinheiro no mundo virtual, Marina não conseguiu convencer as pessoas físicas que acessam seu site. No último balanço da campanha, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral na sexta-feira 3, o PV informou ter arrecadado R$ 74 mil. Longe de atingir as metas traçadas inicialmente, Marina empacou em um dígito nas pesquisas de opinião e enfrenta dificuldades para financiar os candidatos do PV nos Estados com as doações de pessoas físicas. “Nos Estados Unidos há uma cultura de contribuição individual e isso pegou na internet. Mas no Brasil não existe essa cultura, por isso ocorreu esse fiasco na campanha da Marina”, diz Antônio Queiroz, do Diap. Nem mesmo a candidata líder nas pesquisas teve bom desempenho nessa seara. Dilma Rousseff chegou a montar quiosques em seus comícios, mas foram poucos eleitores que entraram no site da petista. Na segunda-feira 6, Dilma arrecadou apenas R$ 500 nos computadores instalados em Valparaíso (DF), onde fazia comício.

No caso de Marina, as doações pela internet até agora são inexpressivas. Pouco mais de mil pessoas contribuíram para a campanha e a doação média não passou de R$ 67. As maiores doações individuais ficaram em torno de R$ 5 mil. Na capital paulista, Marina tenta conquistar parcela da elite financeira e intelectual, que tem se rendido à tese do desenvolvimento sustentável. Quem a ajuda a fazer esta ponte com a alta sociedade é a socióloga Maria Alice Setubal, a Neca, herdeira do banqueiro Olavo Setubal. Na virada do mês, mais de 50 empresárias e profissionais liberais se reuniram no apartamento de Neca para uma conversa com Marina. Muita gente anotava pontos do discurso com canetas Montblanc. Neca disse à ISTOÉ que este tipo de encontro traduz-se também em doações. “Muitas mulheres saíram do encontro querendo colaborar, apoiar a campanha financeiramente”, disse Neca. O resultado desse encontro, no entanto, só deve surgir nos próximos levantamentos de doações pela internet.

 

marina

Marina acreditava que a internet daria origem a uma “onda” eleitoral no País, que a levaria para o segundo turno com Dilma, do PT. Mas, para alguns cientistas políticos com experiência em várias campanhas, a candidata do PV está longe de conseguir uma simples marola que impulsione a estagnada candidatura. “Em política, existe mesmo um momento em que surgem ondas. Mas tem que ser uma onda vigorosa e não sei se há tempo para isso”, diz o cientista político Ricardo Wahrendorff Caldas. Sem a sonhada arrecadação na internet, Marina abandonou a esperança no mundo virtual e decidiu botar o pé na estrada, aumentando o ritmo das viagens, os encontros sociais e o corpo a corpo em todo o País. Pela primeira vez, visitou o Acre no último fim de semana, sua terra natal. Aprendeu, pelo visto, que eleição, pelo menos no Brasil, não se ganha na frente de um computador, mas gastando sola de sapato.

 

 

Fonte: IstoÉ

-+=
Sair da versão mobile