Sete mulheres que transformaram a história do jazz

Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Nina Simone… Conheça as trajetórias das cantoras, pianistas e compositoras que passaram por cima do racismo e sexismo e popularizaram o gênero mundo afora

Por Kathleen Harris Do Portal Fórum

Com o nascimento do jazz na Nova Orleans do início do século 20, a música norte-americana se transformou para sempre. Enquanto os músicos do jazz frequentemente enfrentavam o racismo, as mulheres que tentavam se firmar no gênero precisavam vencer também o sexismo. Ainda assim, ocuparam a linha de frente no desenvolvimento de um dos estilos musicais mais difundidos no mundo, desempenhando diversas funções – cantavam, tocavam todos os instrumentos e compunham. Confia as trajetórias de sete mulheres que tiveram papel fundamental na história do jazz.

Blanche Calloway

Blanche-Calloway

Blanche Calloway foi cantora, compositora e bandleader de jazz durante os anos de 1920 e 1930, além de ter sido a primeira mulher a liderar uma banda totalmente masculina – o Blanche Calloway and Her Joy Boys.

Quando criança, sua mãe a desencorajou a seguir a carreira musical, pois acreditava que esta não era uma profissão “respeitável” para uma mulher, mas Calloway era uma artista nata e não desistiu de seu sonho.

Seu irmão caçula, Cab Calloway, talvez seja mais conhecido do que ela, porém Blanche se tornou bandleader antes de Cab iniciar sua carreira e o incetivou a não abandonar a música, influenciando-no com seu estilo vibrante e o ensinando tudo que sabia.

Além da música, Calloway era ativista pelos direitos civis, integrante da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP –National Association for the Advancement of Colored People) e do Congresso para Igualdade Racial (CORE, na sigla em inglês). Também é conhecida como a primeira mulher negra a votar no estado da Flórida, em 1958.

Lena Horne

Lena Horne foi uma cantora, dançarina e atriz que se destacou na Broadway e no jazz. Iniciou sua trajetória artística no começo da década de 1930 no Cotton Club, um bar no bairro nova-iorquino do Harlem onde só era permitida a entrada de brancos. Participou de várias turnês, transformando-se na primeira artista negra a assinar um contrato longo com um grande estúdio de Hollywood.

Atuou em inúmeros filmes, mas logo se desiludiu com o racismo de Hollywood – ela nunca conseguiu um papel de protagonista, e suas cenas era frequentemente editadas antes de serem exibidas em alguns estados. Sua carreira foi alavancada no período pós-guerra, e ela se tornou a primeira mulher negra a ser indicada para o Tony, a premiação máxima do teatro norte-americano, como “melhor atriz de musical”.

Horne também apareceu em incontáveis programas de TV e séries. Além de ter conquistado muitos prêmios durante sua carreira – incluindo Grammys, Tonys e um Emmy –, era uma ativista pelos direitos civis e esteve presente na “Marcha sobre Washington”, liderada por Martin Luther King em 1963.

Horne se recusou a se apresentar para tropas segregadas durante a Segunda Guerra Mundial, o que a deixava com poucas opções, já que as Forças Armadas dos EUA não permitiam a integração entre brancos e negros. Em vez disso, apresentou-se para grupos de prisioneiros de guerra alemães (que estavam sentados na frente) e de recrutas negros norte-americanos, caminhando entre as fileiras do fundo, onde os recrutas eram forçados a ficar.

Nina Simone 

Pianista, cantora e letrista, Nina Simone sonhava, quando criança, em ser a primeira pianista clássica dos EUA, mas foi forçada a mudar de planos após ter uma bolsa de estudos recusada por conta da cor de sua pele.

Passou a se apresentar em bares e boates para pagar as aulas de música, e conseguiu um contrato nesse processo. Gravou mais de 40 álbuns ao longo da carreira e trabalhou com diversos gêneros musicais, como jazz, gospel, R&B, clássico e pop.

Em meados dos anos 1960, passou a utilizar sua música como protesto político, abordando a questão racial em inúmeras canções. Mississippi Goddam é uma das mais famosas, cantada por ela no encerramento das Marchas de Selma a Montgomery, em 1965.

Mary Lou Williams

Mary Lou Williams foi uma pianista, compositora e arranjadora que não apenas começou a tocar quando criança, como era autodidata. Já ganhava dinheiro se apresentando em festas aos seis anos, e se profissionalizou ainda no início da adolescência.

Em 1923, aos 15, passou a tocar com Duke Ellington e sua banda, The Washingtonians, e logo em seguida se juntou a Andy Kirk e o grupo Twelve Clouds of Joy. Williams atingiu projeção nacional após gravar os solos de piano Drag ‘Em e Night Life.

Em meados dos anos 1940, apresentou um programa semanal de rádio chamado Mary Lou Williams’s Piano Workshop e orientou músicos jovens, como Dizzy Gillespie e Thelonious Monk. Sua carreira também teve importante aspecto filantrópico.

Williams trabalhou com corais de adolescentes, criou uma organização de caridade, abriu brechós no Harlem para auxiliar músicos que passavam necessidade, atuou em parceria com a Fundação Bel Canto para ajudar artistas viciados em drogas e doou 10% de seus ganhos a músicos pobres. Também criou sua própria gravadora e fundou o Pittsburgh Jazz Festival.

Sarah Vaughan

 

Sarah Vaughan, conhecida por sua maravilhosa voz, é considerada uma das melhores cantoras de jazz da história, com um talento que Frank Sinatra descreveu certa vez como “tão bom que quando a ouço quero cortar meus pulsos com uma navalha”.

Depois de frequentar ilegalmente boates quando adolescente, começou a carreira ganhando o concurso Apollo Theater Amateur Night com a canção Body and Soul. Abriu o show de Ella Fitzgerald, chamou a atenção de Earl “Fatha” Hines e começou a cantar em sua banda em 1943, apresentando-se ao lado de lendas como Dizzy Gillespie e Charlie Parker.

Teve uma carreira solo bem-sucedida, que incluiu a conquista de um Grammy e de um National Endowment for the Arts Jazz Masters Award. Apesar dos prêmios, Vaughan não se considerava uma cantora de jazz: “Não sei porque as pessoas me chamam de cantora de jazz, imagino que me associem ao gênero porque fui criada em meio a ele. Não estou desprezando o jazz, mas não sou uma cantora de jazz… Gravei todos os tipos de música.”

Ella Fitzgerald

O mundo provavelmente nunca teria a chance de amar a lendária cantora de jazz Ella Fitzgerald se não fosse por suas inseguranças quando adolescente.

Sua trajetória na música teve início em meados dos anos 1930, época em que começou a cantar semanalmente no Apollo Theater, no Harlem, e conquistou a oportunidade de participar de uma de suas famosas Amateur Nights.

A princípio, ela pensava em se tornar dançarina, mas intimidada pela dupla Edwards Sisters, mudou de planos e passou a cantar. Temos sorte pela escolha que fez, afinal, ela se tornaria uma das mais conhecidas e icônicas artistas da história, cativando o mundo com suas habilidades de improvisação e voz pura e ganhando incontáveis premiações e honrarias durante seus 60 anos de carreira.

Billie Holiday

O ícone do jazz Billie Holiday teve um início de vida difícil: filha de uma jovem mãe solteira, foi forçada a trabalhar em um prostíbulo ainda na adolescência.

Começou cantando em pequenas casas de show, e posteriormente conseguiu um contrato para se apresentar junto a Teddy Wilson. Eles eram estimulados e improvisar em cima do palco, e as habilidades de Holiday se destacaram.

Depois de um breve período cantando com a banda de Count Basie, foi contratada por Artie Shaw e se tornou a primeira mulher negra a trabalhar com uma banda formada exclusivamente por brancos.

O grupo viajou pelo sul dos EUA e Holiday sofreu racismo ao ser vaiada pelo público e proibida de sentar no coreto com os demais cantores. No final dos anos 1930, passou a lançar canções em carreira solo, como Summertime, Strange Fruit e God Bless the Child, entrando para a história como uma das mais populares cantoras de jazz e blues de todos os tempos.

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