Sim e não

(Foto: Lucíola Pompeu)

A palavra trabalho vem do latim tripalium – instrumento de tortura formado de três paus. Horripilante origem, considerando que passamos a maior parte de nossas vidas ralando, seja em cima de livros ou fogões. Para cada época da História e estágio tecnológico, o trabalho foi realizado e percebido de maneira diferente. Há uma fileira de adjetivos que o acompanham: escravo, limpo,doméstico, forçado, voluntário, insalubre, tedioso, necessário, inovador, sonhático. A percepção do trabalho também muda conforme culturas locais e religiões.

Por Fernanda Pompeu, do Yahoo

Mas é trabalho. Sem ele, a maioria não sobrevive. Nem cresce. Quando era garota, ia para escola a pé. Passava em frente a uma fábrica de tecelagem. Sentia arrepios pois a construção lembrava um presídio. E ouvia o apito que soava agouro de ave triste. Morria de medo daquela fábrica. Quiseram as circunstâncias que eu não ingressasse num chão fabril. Mas não escapei de ser operária da palavra. Como tão bem escreveu o cronista Ivan Lessa (1935-2012): Há escritores que trabalham com a enxada dura da língua.

Hoje toda atividade, não importa de qual natureza, sofre o impacto da revolução interneteira. Mas o safanão é particularmente forte nos chamados trabalhadores autônomos, freelancers, avulsos. Gente que como eu emite nota fiscal e é obrigada a administrar a falta de férias e de benefícios. Gente que depende da avaliação direta do cliente, do consumidor, do leitor. Estamos sempre postos à prova. Porém não troco a liberdade de produzir de jeito artesanal e nos horários de minha escolha por nenhum vale refeição, transporte, coxinha, esfirra, aposentadoria.

Muito antes da popularização do conceito network, já punha meu computador na cozinha, na varanda, debaixo de um pé de manga, ao lado da cama. Também baguncei o calendário. Gosto de trabalhar nos sábados e deixo as sextas livres. Aliás, vai dica – que aprendi por experiência – trabalho bom é aquele no qual pensamos o tempo todo, mesmo quando estamos na praia ou dormindo. Para criar, a mente precisa do ócio e do entretenimento. Cérebro concentrado necessita de neurônios de dispersão. Quinhentos anos antes de Cristo, o chinês Confúcio teve o insight: Trabalhe em algo que você realmente goste e você nunca precisará trabalhar na vida.

imagem: Régine Ferrandis

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