Sobre o maçante e doloroso assunto “Solidão da mulher negra”

Tem um ponto a respeito do maçante e doloroso assunto “Solidão da mulher negra” que ninguém aborda muito.

Por  Joice Berth, do Casa da Mãe Joanna

A masculinidade construída sobre as bases insanas do patriarcado, portanto altamente machista/misógina, produz homens extremamente frouxos, orgulhosos, inseguros e confusos sobre seu lugar no mundo. Tudo que questiona seus delírios de grandeza e supremacia é repelido, assusta.

A construção das mulheres negras, tristemente marcada pelas opressões racistas e machistas, produzem pessoas especialmente combativas, que são obrigadas a assumir uma postura firme e incisiva diante da vida e que é resultado da nossa briga pelo espaço que nos tiram, contra o silenciamento e apagamento que nos impõem. Ou seja, resistimos porque aprendemos a ser resistentes e não temos escolha.

Essa conversa de que homens preferem mulheres fortes é uma falácia. Os homens correm de mulheres fortes, que brigam quando acham que devem brigar, que tem uma postura dizendo em cada gesto que sabemos quem somos e não aceitaremos comandos e imposições. Admiram sim, mas conviver com algo que os ameaça, nem pensar.

Nunca conheci uma mulher negra que fosse o oposto disso, e olha que conheci e conheço muitas. O machismo estremece diante da nossa força aprendida na marra e passada de geração em geração. Isso é um agravante nas escolhas afetivas, porque enquanto o homem em estado obsoleto de auto afirmação machista comandar a sociedade, nós negras significamos uma afronta, uma ameaça e evidentemente, devemos ser combatidas e evitadas por eles, seja branco ou negro, ou qualquer outra etnia.

Essa conversa de que homens preferem mulheres fortes é uma falácia.

Haja vista as ameaças, perseguições, xingamentos, ofensas ou até mesmo o desprezo e descaso que aquelas que se posicionam publicamente recebem, independente do assunto ou da abordagem. Homens, em geral, enquanto forem absurdamente machistas, terão medo. Sua arma mais eficaz é a nossa exclusão dos padrões que criaram e que são codificados como “maleáveis”.

Não é a toa que o padrão princesa de contos de fadas é estendido à estética excludente para nós negras. Evidente que há os que saem desse grupo, mas observem como eles dão sinais claros de outras construções, mais limpas de machismos e preconceitos correlatos. Existem outras categorias de mulheres que partilham dessa postura masculina e são igualmente preteridas mas em menor quantidade que as negras, mas aquelas mais desejadas são justamente as que se enquadram na imagem e semelhança da “fragilidade feminina”, outra invenção machista que convence várias mulheres de que é algo de bom e instintivo e que deve ser cultivado.

Mulheres negras nunca são vistas como frágeis ou sensíveis, nem mesmo sentimentais ou sonhadoras. Estar ao lado de uma mulher negra, que a princípio representa o oposto disso, no imaginário racista, é confessar ao mundo que a suposta força da sua masculinidade está sendo quebrada. Imaginem a vergonha que isso representa.
Em uma sociedade machista, homens não querem mulheres que os desafiem em suas construções de masculinidade obsoletas e recalcadas. Observem e reflitam a respeito com carinho…e eu realmente penso que diante desse cenário, nossa “solidão” não seja exatamente uma desvantagem…

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Joice Berth

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