Sobre o racismo no Brasil: precisamos descolonizar a nossa mente, afirma professor

A polêmica em torno do Programa Mais Médicos no Brasil acabou revelando outro lado da história do país, que embora seja um problema real e gritante e que precisa ser combatido ainda se camufla como se não existisse: O racismo. Um exemplo claro desse ‘atraso’ foi ilustrado durante o episódio lamentável da chegada de médicos Cubanos no país para participarem do programa implantado pelo governo brasileiro, na atual gestão da presidente Dilma Rousseff em parceria com o governo cubano, em que os profissionais foram hostilizados, humilhados e desrespeitados em solo brasileiro. Uma vergonha para o país!

Uma pergunta: a polêmica sobre o programa Mais Médicos é um assunto interno do país, o que os médicos cubanos têm a ver com isso? Mais uma pergunta: Se fossem, por exemplo, médicos Franceses, Alemães ou Italianos a reação seria a mesma?

Sobre essa temática, na manhã desta terça-feira, 09, esteve participando do Programa Conexão Verdade da Rádio A Voz do São Francisco – Emissora Rural, o Professor Doutor em História, Nilton de Almeida, da UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco), na qual leciona no Curso de Ciências Sociais. Na oportunidade o médico comentou sobre esse episódio dos médicos cubanos.

“Falar de racismo é falar de um fenômeno econômico, político, social e cultural que hierarquiza e principalmente a gente tem que observar no racismo, um fenômeno social, não apenas uma questão de individualidade, preconceito ou ignorância. Existe quem ganha e quem perca com o racismo e eu acredito que no episódio dos médicos cubanos foi uma ação de ataque e de preservação de posição, uma disputa por status, por poder, privilégio, reconhecimento e para isso se utilizou do racismo como arma de ataque”, afirmou professor Nilton.

O professor questiona: Quem ganha e quem perde com o racismo no Brasil, passado tanto tempo? Porque nós somos iguais diante da natureza, das leis, mas nós costumamos dizer que no Brasil as leias não funcionam. Qual é o critério para a lei não funcionar para alguns? A dimensão racial vem sendo muito manejada aqui no nosso país e isso tem uma série de faces que a gente pode localizar principalmente no mercado de trabalho, mas que a gente pode encontrar tanto do ponto da violência material, física, concreta, como do ponto de vista da violência simbólica.

“É muito interessante e muito intrigante que a gente tenha uma invisibilidade da população negra e que não nos choquemos com isso, que tenhamos alguns programas na televisão que expõem as pessoas negras nos programas policias em particular e que promovem um estereótipo que não começa de hoje e aí o que acontece quando uma jornalista no Rio Grande do Norte vai dizer que algumas pessoas têm cara de médico e outras pessoas não tem cara de médico (…) a gente tem aí uma continuidade ao que eu chamo de neo casa grande, o que a gente vive hoje no Brasil é uma continuidade e ao mesmo tempo uma mudança. (…) Tem uma tese que diz que com o passar do tempo as pessoas vão mudar a sua mentalidade, só que a abolição da escravatura aconteceu em 1888, já tem mais de 120 anos e espontaneamente isso não vai acontecer e quem tem de se mobilizar, buscar seus direitos, as informações em primeiro lugar somos nós população negra, na medida em que a gente consiga superar o racismo isso vai ser um avanço pro país como um todo”, pontuou professor Nilton de Almeida.

O professor Nilton discutiu sobre vários aspectos do racismo e concluiu dizendo que precisamos descolonizar a nossa mente para acabar com o racismo no Brasil.

Por Angela Santana

Fonte: AM730

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