Sol enluarado

(Foto: Lucíola Pompeu)

Em qualquer compêndio de geografia, lemos sua definição: Estrela nascida da poeira resultante da explosão de outras estrelas. Dista 149.600.000 km da Terra. É composto de hidrogênio e hélio. Ainda deve brilhar por mais sete bilhões de anos. Convenhamos, descrição um tanto fria da maior fonte de calor e vida que temos. O que é o sol para você? O que é o sol para cada um de nós?

Se prestarmos atenção na história humana, vamos dar de cara com ele muitas vezes. Os Incas se diziam filhos do sol. Os cariocas dizem algo parecido. Alguns paulistanos elegeram uma praça como seu altar, a Pôr-do-Sol na Vila Madalena. Os japoneses o trazem na sua bandeira. Ops, argentinos e uruguaios também. Sem esquecer a bandeira do Nepal.

Do coletivo ao individual, cada um tem sua interpretação do sol. Para minha mãe, por exemplo, o sol foi meu pai. Ela ficou viúva faz oito meses. Como recitando um mantra, ela diz muitas vezes ao dia: “Ele é minha vida. O meu sol.” Uma vez que esse sol se pôs, ela vive uma tristeza inconsolável.

O sol é o centro da vida. Para muitos ele pode ser uma pessoa. Para outros, o trabalho. Para alguns, uma ideologia de jornadas inteiras. Às vezes, até, o sol pode se vestir de lua. Isso acontece quando o caminho reto entorta, ou quando a maré muda. Subir, descer, crescer, decrescer, iluminar, sombrear são atributos dela.

O que me faz pensar que, na verdade, somos – como espécie e como indivíduos – filhos da Lua. Vejamos, nossa vida é pautada por fases. Ora pensamos assim, ora agimos assado. Ora somos generosos, ora mesquinhos. Com ela, vamos singrando e sangrando no ora ora.

É claro que em muitas fases gostaríamos de ser como o sol. Radiante, previsível, líder, coerente, provedor. Ter a simplicidade da linha reta. O conforto da causa-efeito. O aconchego do calor. A alegria da luz. Mas nem sempre é assim. Ademais nem suportaríamos um sol perenal na moleira, sem uma sombrinha de árvore ou telhado.

Relendo o que acabei de escrever, faço uma errata. Creio que não somos nem sol e nem lua de maneira específica, única. Carregamos o astro-rei e a lua-rainha em nós. Pura aristocracia em nossos passos plebeus. Tem hora que somos determinados, tem hora que somos ambíguos. Abóboras que se ajeitam com o andar da carruagem. Têm momentos do dia em que minha mãe vira lua e dá suas gargalhadas.

Fonte:Yahoo

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