“Sou negro, minha filha é branca e tenho medo de ir sozinho com ela ao shopping”

O EDITOR DE ARTE Helton Gomes, 36, cresceu na periferia de São Paulo, perdeu a mãe e o irmão ainda criança e viu amigos se envolverem com o crime. Começou a trabalhar aos 14 anos, terminou a faculdade e arrumou um bom emprego. Hoje é o responsável pela diagramação da revista de uma das maiores companhias aéreas do país,  mora num bairro de classe média, gosta de  camisas floridas estilosas e pilota uma motocicleta Vulcan 900, cor-de-laranja metalizada.

Por Helton Gomes, do theintercept

Helton é casado com uma mulher branca, sua “parceira na luta diária contra o preconceito”, e os dois têm uma filha, também branca,  de um ano e meio, e outro encomendado, na barriga da mãe. “Essa reação de espanto é muito comum nas pessoas. De olhar pra minha filha, depois pra mim, depois pra ela de novo, depois pra mim… Fico triste pra cacete, mas acabei criando um bloqueio”, conta.

Num país que insiste em negar o racismo, ele fala sobre as várias formas que esse fantasma onipresente assume em sua vida:

Demorei pra pensar sobre racismo porque, em casa, meu pai nunca se aceitou como negro, então isso não era assunto. Além disso, eu morava em Mauá – uma cidade dormitório, na periferia de São Paulo – e lá tem gente de toda a cor. Então só comecei a pensar mais sobre isso na época da faculdade, quando entrei na capoeira. Durante as rodas, meu mestre fazia leituras e falava da importância e da força da cultura africana.

 

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