Tadição Religiosa e o Dia Nacional da Consciência Negra

Fonte: Jornal da Manhã –

por: Gilberto Caixeta

Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano. Ele tentou usando o ar, o fogo, a água, o azeite e não deu certo. Foi então que apareceu Nanã; retirou uma poção de lama do fundo da lagoa e a deu a Oxalá, que criou o homem do barro e, pelo sopro, Olorum o fez caminhar. Nanã, no entanto, só emprestou o barro, e quando ela o pede de volta, o homem morre.

 

O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, é alusivo ao líder quilombola Zumbi. Pouco se sabe sobre ele, exceto que havia escravos refugiados em Palmares. Todavia, essa data é uma reconquista do movimento negro organizado. Os mitos, contos, o saber africano, são mais interessantes porque nos ensinam a ser jardineiros de nós, arrancando as ervas que nos danificam e obstam a paz.

 

Quando Oraniã nasceu, diz a lenda africana, esse menino tinha um lado do corpo com pele negra, como a de Ogum, e o outro lado com pele branca, como Odudua, e virou um grande guerreiro, fundando o reino de Oió. Imagino que, nesse reino, negros e brancos convivem sem raças, sem imaginários de que ser negro significa ser umbandista, candoblecistas. Podem ser, mas, podem ser islâmicos, espíritas, católicos, evangélicos, cultivando a tolerância religiosa entre os seus fieis, sem menosprezar sarcasticamente uns aos outros.

 

Dizem que Xangô tratava os adversários com lealdade e respeito. Os guerreiros de Xangô quando eram capturados pelos inimigos, sofriam demais e isso o enfurecia. Até que um dia, Xangô subiu no alto de uma pedreira e bateu nas pedras com o seu machado duplo, com o oxé, arrancando faíscas, que se transformavam em línguas de fogo e devoravam os seus inimigos. Xangô ganhou a guerra e não maltratou os adversários.

 

Os inimigos que nos maltratam hoje são os índices sociais, é o fosso da desigualdade, é a herança perversa da escravidão que fere o tecido social brasileiro, composto por etnias negras, brancas, pardas. São as drogas que penalizam famílias, a prostituição infantil que ceifa a adolescência, são as filas de transplante que adiam o viver…

 

É preciso curar as feridas, como Ogum e Iansã curaram as de Omulum. Ele morava na floresta com o seu cachorro, alimentava-se dos frutos e das plantas que existiam na mata. Os mosquitos e os espinhos machucavam o seu corpo e só o seu cachorro lambia as suas feridas para curá-las. Até que um dia, ele ouviu uma voz que o mandava ir para a cidade curar o povo. Ao olhar para o seu corpo, viu que as suas feridas estavam todas secas. Omulum, com a sua vassoura mágica, limpava as casas curando os doentes, até mesmo aqueles que o maltratavam. Depois da cura, houve uma grande festa. Omulum não queria participar. Tinha vergonha de sua aparência, cheia de feridas. Ogum, ao perceber a sua angústia, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava a sua cabeça. Quando todos estavam dançando, Iansã soprou as roupas de Omulum, levantando as palhas que cobriam suas feridas. Mas nesse momento as feridas pularam para o alto, transformando-se em chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. Assim como a paz deve se espalhar entre nós.

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