A trágica urgência em combater o feminicídio

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - JUNE 06: Photographs by Marcio Freitas of models portraying women who are abused are displayed on Copacabana beach with 420 pairs of underwear at a demonstration against violence against females on June 6, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. The demonstration was put on by the NGO Rio de Paz who said the 420 pairs of underwear represent the number of women raped in Brazil every 72 hours. The protest follows the gang rape of a 16-year-old girl in late May in Rio de Janeiro. The Rio 2016 Olympic Games begin August 5. (Photo by Mario Tama/Getty Images)

Para Izabel Noronha, debate sobre as questões de gênero e a luta para combater e punir toda e qualquer forma de machismo precisam ser priorizadas nas escolas

Por Maria Izabel Azevedo Noronha, da Carta Educação 

(Photo by Mario Tama/Getty Images)

O assassinato da escrevente Simone Lanzoni em Sorocaba, interior de São Paulo, no dia 3 de janeiro,  revela já nestas primeiras semanas de 2018 que a violência contra a mulher e o feminicídio continuam rotineiros no Brasil. A escrevente de 46 anos era filha de uma ativa líder sindical, a ex-dirigente da APEOESP e professora Abigail do Amaral Maduro. A professora, falecida em agosto de 2014, foi a primeira secretaria de Assuntos dos Aposentados do Sindicato dos Professores, e era historicamente engajado na luta feminista.

De acordo com a Polícia Militar, Simone foi morta a tiros pelo próprio namorado em Sorocaba, cidade onde ambos viviam. As primeiras investigações indicam que José Júlio Ferreira Cintra de Almeida Prado Júnior matou a namorada e depois cometeu suicídio. Nas reportagens sobre o caso, pessoas próximas ao casal informaram que José Júlio tinha um histórico de atitudes de ciúmes e essa pode ter sido a causa da tragédia, que deixou três crianças órfãs.

Não há cálculos sobre o número de órfãos da violência doméstica no Brasil. Mas, o Mapa da Violência, elaborado a partir de dados do Ministério da Saúde, revela que o Brasil ocupa hoje a 5ª posição no ranking de feminicídio, em um grupo de 83 países. São 4,8 assassinatos para cada grupo de 100 mil mulheres. O número de estupros passa de 500 mil por ano em todo o país. No caso dos assassinatos, 55,3% foram cometidos no ambiente doméstico e 33,2% dos assassinos eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

A violência de gênero é considerada um problema de saúde pública por afetar mulheres em diversos países; no caso do Brasil trata-se de uma epidemia. O assassinato como o de Simone costuma ser precedido de agressões verbais e crises de ciúmes, que abalam a autoestima feminina e impedem seu progresso.

A conscientização, o debate sobre as questões de gênero e a luta para combater e punir toda e qualquer forma de machismo precisam ser priorizadas nas escolas, no ambiente doméstico, nas mídias e redes sociais todos os dias.

Para enfrentar a violência, o país ganhou a Lei do Feminicídio. Assinada no dia 09 de março de 2015 pela presidenta Dilma Rousseff, a lei estabelece que o assassinato de mulheres pode ser considerado homicídio qualificado e tratado como crime hediondo, o que dobra a pena.

Lamentavelmente neste início de 2018, quase um século depois que a filósofa Simone de Beauvoir popularizou a bandeira do feminismo, a igualdade entre homens e mulheres ainda é um ideal longe de ser assimilado pela nossa sociedade.

A professora Maria Izabel Azevedo Noronha, Bebel, é presidente da APEOESP

 

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