Uma em cada quatro mulheres não tem acesso a absorvente durante o período menstrual, no Brasil

Moradoras das periferias são as mais afetadas pela falta de informações para comprar os insumos de saúde

FONTEPor Catarina Barbosa, do Brasil de Fato
Acesso à absorventes ou outros insumos de higiene menstrual é algo escasso entre mulheres e meninas de menor poder aquisitivo - Reprodução (Imagem retirada do site Brasil de Fato)

Menstruar mensalmente é algo que ocorre com qualquer mulher saudável. No entanto, o acesso à absorventes ou outros insumos de higiene menstrual é algo escasso entre mulheres e meninas de menor poder aquisitivo ou em situação de vulnerabilidade social.

Esse é um problema que passa desapercebido na sociedade, mas é sofrido por muitas mulheres e meninas

Sabendo disso, o projeto “Ciclo de Amor”, uma iniciativa do clube Girl Up Nise da Silveira, da Fundação ONU (Organização das Nações Unidas) atua no sentido de lutar contra essas desigualdades. 

A aluna do terceiro ano de gerência em saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Marcela Marcondes Gonçalves é uma das integrantes do projeto. Ela conta que há muitas mulheres e meninas desprivilegiadas da periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro e promover debates sobre igualdade de gênero, educação sexual e empoderamento feminino é uma questão de justiça social. 

“Esse problema consiste tanto na falta de conhecimento acerca dos cuidados necessários com a menstruação, quanto na falta de recursos para lidar com a menstruação. Esse é um problema que muitas vezes passa desapercebido e não gera interesse da sociedade, mas é sofrido por muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social, tanto no meio rural, quanto nas grandes cidades. Por falta de instrução, muitas mulheres não têm o conhecimento básico sobre o próprio funcionamento do corpo, sobre cuidados ginecológicos, sobre medicamentos e muito menos têm acesso a absorventes e produtos de higiene pessoal”, explica Marcela Gonçalves. 

A iniciativa conta com a participação de seis estudantes do Ensino Médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio que engajados com pautas sociais, decidiram se tornar voluntários do clube.

Girl Up Nise da Silveira foi criado em 2019 e foca na pobreza menstrual, porque a questão é um problema de saúde pública. 

“No Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possuem um absorvente durante o seu período menstrual. Em penitenciária e áreas de extrema pobreza financeira, a utilização de itens inadequados como miolo de pão e jornal, ocorrem com frequência e o uso desses recursos pode causar diversos problemas físicos e mentais”. 

Essas medidas podem levar as mulheres a terem infecções no trato urinário, no rim, síndrome do choque tóxico e até lesões nos órgãos reprodutores femininos. Já na vida acadêmica, a precariedade no acesso à itens de saúde menstrual pode gerar evasão escolar e falta de autoestima. 

Precariedade nas informações

Na avaliação de Marcela Marcondes Gonçalves o fornecimento de informações acerca de saúde sexual e direitos reprodutivos das meninas e pessoas ainda é um tabu muito grande.

“O Nise da Silveira atua nessa área por meio do ‘Clico do Amor’, que é uma iniciativa fundada pelo grupo, que busca combater a pobreza menstrual e a fome no Rio de Janeiro, por meio da doação de cestas básicas com bioabsorventes e a promoção de workshops, oficinas, que chamamos de ‘artevismo’ ou como o próprio nome diz a gente mistura arte e ativismo”.

Em setembro deste ano, o grupo doará 300 bioabsorventes e 20 cestas básicas para mães solo, que vivem na Praça Seca, um bairro da zona oeste do município do Rio de Janeiro. O ponto de encontro será o Orfanato Rita de Cássia, que foi o mesmo utilizado na última ação promovida pelos jovens.

“Além dos serviços comunitários, o Nise entende que isso é uma questão de saúde pública e, por isso, urge por políticas públicas. Por isso também produzimos projetos de lei municipais e estaduais contra a pobreza menstrual, que visam remediar a problemática através da disponibilização gratuita de absorventes em casas de acolhimento, escolas e centros de saúde. Assim como educação menstrual em escola para estudantes e para a comunidade”, conclui Marcela Gonçalves. 

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