Uma inglesa brasileira

Lily Green

Na minha terra natal, a Inglaterra, sou diferente da maioria dos “ingleses”. Tenho a pele morena, os cabelos castanhos e os olhos escuros.
Ao longo dos anos, ouvi uma variedade de hipóteses curiosas sobre minha “verdadeira” origem: venezuelana, filipina, nepalesa, espanhola e até japonesa.

Mas adivinhem qual era a nacionalidade mais mencionada? Brasileira! Esse “jogo da nacionalidade” tem seu lado divertido, mas também revela um preconceito: se você é inglês, tem de ser branco.

No Brasil, quando as pessoas descobrem que sou inglesa, dizem: “Você deveria ser brasileira!”. Ou seja, ingleses e brasileiros parecem concordar que devo mesmo ser daqui!

No Brasil, estou experimentando uma sensação nova. De ter a aparência da maioria da população e não ser parte de uma minoria. Curiosamente, apesar de meu sotaque, me sinto aqui mais “em casa” do que muitas vezes me fazem sentir na minha própria casa!
Eu me lembro bem de uma ocasião, quando trabalhava em um pub, e me deparei com um cliente inebriado que elogiava “meu povo” por ter vindo para a Inglaterra e conseguido falar inglês tão bem.

Minha viagem ao Brasil, por uma perspectiva pessoal, se revelou, por um lado, uma espécie de descoberta de um éden, longe de comentário xenófobos (ou às vezes excessivamente politicamente corretos). Por outro lado, estou começando a ver que o Brasil não é o paraíso racial no qual um dia acreditei.

Conheci um professor universitário aposentado que se ofereceu para me explicar o candomblé e a cultura afro-brasileira. A questão do racismo foi inevitável. Não esperava que em um país com população tão geneticamente diversa e misturada, sem história de apartheid em tempos recentes, fosse tão marcado pela discriminação racial.

Mas, infelizmente, a vida deste professor foi marcada por experiências determinadas por sua cor de pele. De costas para a turma, já ouviu de um aluno que ele poderia ser um de seus empregados domésticos, por exemplo.

Esta minha viagem está servindo para quebrar uma série de preconceitos sobre o Brasil. Sei que para muitos vou soar ingênua, mas a descoberta do racismo no Brasil acho que foi a questão mais surpreendente para mim.

E ela, obviamente, não se resume ao preto e branco. Toda a hierarquia fisionômica que determina quem será ou não será discriminado é um universo que ainda estou descobrindo.

Será que o Brasil consegue um dia superar isso e dar ao mundo um exemplo único de verdadeira convivência e aceitação de diferenças?

Fonte: BBC

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