Versos da madrugada

Pedro Paulo está remoendo uma dor que o azucrina: o fim do seu segundo casamento. Pelo seu ponto de vista, ele continua o mesmo homem de seis meses atrás, quando juntou com ela corpos e louças para lavar.

Por Fernanda Pompeu Do Fernan da Pompeu

Ele desconfia que as mulheres são maldosas. Com a primeira ex, tudo ia na santa ordem, até a noite em que ela gritou: Pra mim chega, Pedro Paulo! Pega sua vida e dá o fora!

O pobre se mandou levando o notebook e os livros. Deixou os móveis e o bebê. Pedro Paulo tem a sensação de que sempre foi perseguido. Na infância, pela mãe que o queria limpinho, comportado, gordinho.

Depois pelo pai, coronel da Aeronáutica, cujo pavor eram dois: que o filho virasse comunista ou veado. O rapaz se viu obrigado a jogar futebol, ler O Globo, competir no judô e exibir namoradas.

Foi muito duro para Pedro Paulo, pois ele amava os romancistas russos e declamava herméticos versos nas madrugadas de sua adolescência.

 

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