A vez da literatura produzida por negros e pobres

A escritora Carolina Maria de Jesus se tornou leitura obrigatória dos vestibulares da Unicamp e da UFRGS. Enquanto a Flip vai homenagear Lima Barreto

Por JOSÉ RUY LOZANO, do El Pais 

Em 2013, liderava a equipe de professores de Língua Portuguesa de um grande colégio paulistano, e decidimos adotar o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, como leitura obrigatória. Trata-se, como diz o subtítulo, do diário de uma favelada, em que a autora relata o dia a dia cruel em meio à miséria na periferia de São Paulo.

Poucas vezes vi tamanha reação a uma leitura escolar. Pais nos acusavam de muitas coisas. Uma delas: promover a ignorância em relação à norma gramatical, aludindo ao texto da autora que pouco frequentou a escola. A outra (a meu ver, a pior): o que o relato de vida de “uma favelada” acrescentaria à formação cultural de seus filhos?

Escapava àquelas pessoas, no entanto, o fato de que desvios formais não impediam a autora de criar imagens, estabelecer analogias, refletir sobre o cotidiano e, acima de tudo, narrar com enorme sensibilidade e inteligência seu cotidiano de mulher pobre, que certa vez recorreu ao lixo para dar um par de sapatos a sua filha.

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