“Virou Gay Agora?”

No sábado, quando orgulhosamente participei do I Encontro de Jovens Feministas da União da Juventude Socialista, em Brasília, uma das pessoas que dividiu a mesa comigo foi a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB – AM), procuradora especial da Mulher no Senado. Entre vários pontos, ela citou o absurdo que é os brinquedos serem tão divididos por gênero.

por Lola Aronovich

Na minha hora de voltar a falar, decidi complementar o que a Vanessa tinha mostrado com uma anedota que não é minha. Eu a ouvi em agosto do ano passado. Fui dar uma palestra na Faculdade de Educação da Unicamp e, no final, no momento da participação do público, uma professora de uma escola pública é que contou. E essa anedota é linda.

Quando eu a contei agora no encontro, o auditório interrompeu minha fala pra aplaudir. Vi gente enxugando lágrimas. Ontem um leitor me mandou um email pedindo maiores informações sobre essa anedota, perguntando se eu já tinha escrito sobre ela em algum post, e percebi que não havia, só neste. E, embora eu conte essa história em várias palestras, ela merece ficar mais registrada aqui no blog, porque ela é tão simples, e tão verdadeira.

menino

Nessa escola pública no interior de SP, os brinquedos não são segregados por gênero. Meninas podem brincar de carrinho e jogar futebol, e meninos podem brincar de casinha e de dar papinha a bonecas-bebês. Em outras palavras: crianças podem ser livres. E era isso que um aluno de seus 6, 7 anos estava fazendo, brincando de boneca, quando seu pai chegou na escola para buscá-lo. Revoltado, o pai perguntou ao menino: “Quequifoi?! Virou gay agora?!”

E o menininho, do alto da sua inocência e sabedoria, com toda a calma respondeu: “Não, virei pai”.

Acho que não precisa desenhar, porque o menino disse tudo.

Mas, caso alguém mais lerdinho ou tosquinho não tenha entendido, todo brinquedo é educativo: ele ensina a criança seu papel na sociedade, o que se espera dela, como ela deve se comportar, agora e no futuro. Por isso, proibir que meninos brinquem de boneca corresponde a ensinar a um menino que afazeres domésticos são responsabilidade feminina. Cuidar da casa e dos filhos deve ser tanto coisa de pai como de mãe. E o fato de ainda sermos um país tão machista tem tudo a ver com a educação retrógrada que damos às crianças.

Este menino que, apesar de seu pai machista e homofóbico, aprendeu a lição já aos 6 ou 7 anos, tem grandes chances de se tornar um ótimo marido, um ótimo pai. Um ser humano melhor.

Por que adultos vividos não conseguem apreender uma lição tão simples?

 

 

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Fonte: Escreva Lola Escreva

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