Vitória das esquerdas esvazia julgamento do ‘mensalão’

Pouco depois da última pesquisa dos institutos Ibope e Datafolha apontarem uma vantagem de mais de 15 pontos percentuais de diferença em favor do candidato petista Fernando Haddad, contra o tucano José Serra, na disputa pela prefeitura de São Paulo, o Jornal Nacional, principal noticioso da rede conservadora de TV Globo, na última terça-feira, dedicou 18 minutos ao julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (STF), conhecido como processo do ‘mensalão’. A matéria foi ao ar segundos após o horário eleitoral gratuito, com destaque para as passagens em que Marco Aurélio Mello citou a quadrilha formada pelo “sintomático 13” e Celso de Mello comparou o partido do governo às organizações criminosas do PCC e do Comando Vermelho. Desde então, a estratégia dos partidos de direita mudou.

Tanto no STF quanto na ‘telinha da Globo’, houve o claro esvaziamento das sessões, com apartes moderados dos ministros, alertando sobre a cautela na fixação de penas, como pontuou o ministro Marco Aurélio Mello e, na maioria das vezes, seguindo as posições mais equilibradas do revisor Ricardo Lewandowski, como no caso de Celso de Mello. No noticiário do Jornal Nacional, a reportagem dedicada ao mensalão não citou mais o PT. E o ponto alto, que poderia ter ocorrido nesta quinta-feira, como chegou a arriscar o colunista Lauro Jardim, da revista semanal de ultradireita Veja, pela coluna Radar, na definição das penas de José Dirceu e José Genoino, ficará para depois das eleições, a partir do dia 5 de novembro, quando Joaquim Barbosa retornará de Berlim, para onde embarca neste fim de semana, para um tratamento de saúde.

Segundo analistas ouvidos pelo Correio do Brasil, o que houve foi uma tomada de consciência quanto à prevista derrota do candidato tucano para a administração da capital paulista e o fortalecimento do PT e de seus aliados nas principais capitais do país, apesar da campanha midiática em torno do processo que, segundo afirmou o presidente do STF, ministro Ayres Britto, “expôs as víceras” da agremiação partidária. A realidade é que o julgamento não apresentou qualquer peso maior na eleição municipal de São Paulo. De acordo com os dois institutos, Datafolha e Ibope, Fernando Haddad, do PT, já está praticamente eleito. Sua vantagem nos votos válidos tende a chegar a 20 pontos nas eleições que acontecem neste domingo.

A leitura é a de que, por mais barulho que a mídia conservadora conseguisse fazer, como fez o JN ao sublinhar as frases de efeito dos ministros do STF, apenas um golpe poderia impedir a vitória do PT nas urnas. Esta pode ter sido a reflexão entre os ministros da Suprema Corte, que não gostariam de ser ver acusados de participar de uma manobra eleitoral frustrada. Em linha com este raciocínio, jornalistas políticos da mídia conservadora deixaram de comentar suas próprias pesquisas. Na Globo, Merval Pereira nada falou sobre o Ibope, ligado à emissora comandada por Ali Kamel, assim como Eliane Cantanhêde não comentou o Datafolha, como sempre fez em suas colunas.

Apenas Reinaldo Azevedo, na Veja, publicou um pequeno texto no qual torce para os números das pesquisas estejam errados. Não parecem estar e, uma vez confirmados, Fernando Haddad será eleito prefeito de São Paulo dentro de 48 horas, para frustração da direita e de suas tentativas mirabolantes de iludir o eleitor.

Fonte: Correio do Brasil

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