Mentira: Manifestações livres sobre qualquer assunto

Por Leno F. Silva

Desde criança ouço que mentira tem perna curta. Fui educado a falar a verdade, pois essa é a atitude que mais nos tranquiliza e nos faz ficar em paz com a nossa consciência.

Com o passar dos anos algumas mentiras passaram a ser “socialmente” aceitas, como aquelas pegadinhas usadas em certos programas de entretenimento. Inventa-se uma situação absurda, monta-se uma cena e escolhe-se um “coitado” para cair no conto que está sendo gravado com câmera oculta. No final, tudo é desmascarado e pode até rolar um cachê para a pessoa que foi “usada” sem saber.

Normalmente essas situações são exageradas e colocam o personagem desavisado em condições ridículas ou, no mínimo, desrespeitosas. Mas como aquele conteúdo será veiculado em emissoras de TV de grande visibilidade e provocará o riso fácil de milhões de pessoas, tudo bem. Vale aquela mentirinha “ingênua” que renderá também alguns pontos na audiência.

Mas esse tipo de estratégia vai além da ficção e dos programas de entretenimento. No recente caso de assassinato que gerou grande interesse na mídia, o ex-goleiro do Flamengo negou, desde o início, que a sua amante, vítima de uma “pegadona”, tinha sido assassinada.
Todos os indícios demonstravam o contrário e, no final, numa tentativa de reduzir a pena, ele confessou o que todos já sabiam e foi condenado pelo crime. Nesse triste fato a negação jamais se sustentaria. Era apenas uma estratégia jurídica para se ganhar tempo, visto o que o corpo da jovem jamais foi encontrado.

Aproveitando que na próxima segunda-feira se “comemorará” o Dia da Mentira, convém lembrar o quanto essa prática pode ser prejudicial. O filme dinamarquês “A Caça”, em cartaz, mostra como uma situação inventada por uma criança e não suficientemente checada pelos
adultos, quase destruiu a vida de um professor irretocável e adorado pelos alunos.

Tudo bem que a pedofilia, tema em questão, vem se confirmando como um dos crimes mais terríveis praticados no mundo. E, a meu ver, a opção do diretor Thomas Vinterberg foi a de demonstrar como é possível ser injusto quando se opta por não aprofundar as denúncias de uma criança com a devida isenção e rigor.

Fazer, falar e praticar o que é certo são os melhores caminhos para o estabelecimento de relações e de sociedades confiáveis. Quando esse comportamento é reconhecido e adotado pela maioria das pessoas, as brechas para farsas, sejam elas de pernas diminutas ou grandes, ficam mais restritas, pois o cuidado em zelar pelo correto é de todos e os parâmetros de convivência e de atitudes são conhecidos por qualquer pessoa. Nesse contexto, a mentira é facilmente identificada. O duro é quando se estimula a inversão desse valor. Aí, rimos das pegadinhas que inundam os programas de entretenimento, desde que o “otário” enganado não seja nenhum de
nós. Por aqui, fico. Até a próxima.

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