“A Mangueira está ajudando a redimir Jesus”, diz pastora Lusmarina Garcia

Geledés no debate ouviu três religiosos sobre a escolha da escola de samba verde e rosa em retratar Cristo em seu enredo do Carnaval 2020

imagem divulgação

A escola de samba carioca Estação Primeira Mangueira nem desfilou e seu enredo “A Verdade Vos Fará Livre” já está causando uma grande discussão nas mídias sociais. Motivo: o carnavalesco Leandro Vieira resolveu refazer uma releitura histórica da vida de Jesus Cristo, projetando a sua volta para os morros cariocas, em um mundo apartado pela intolerância. Antes dos carros alegóricos da verde e rosa adentrarem a avenida Sapucaí, no Rio, Leandro convidou um grupo de diversos líderes religiosos para que pudessem conhecer e opinar sobre a sua versão do homem mais consagrado no Cristianismo, o Nazareno.

Coube ao babalaô Ivanir dos Santos reunir o maior número possível de representantes de distintas religiões, em sua maioria cristãos, para visitar os barracões da Estação Primeira. Estiveram lá a pastora Lusmarina Garcia (teóloga luterana), o reverendo Daniel Rangel (Paróquia Anglicana de Todos os Santos), frei Tata, a reverenda Inamar Corrêa de Souza (da Igreja Anglicana), Júlio Oliveira (Comunidade Batista de São Gonçalo), reverendo Rodrigo Coelho (Igreja Presbiteriana de Botafogo), Rafael Oliveira (antropólogo, do Terreiro da Casa Branca , na Bahia), José Kowalska (Igreja Luterana), pastor Marco Davi (Nossa Igreja Brasileira), Conceição d’Lissá (Terreiro de candomblé Kwe Cejá Gbé), Yango (Agen Afro) e o rabino Nilton Bonder (Congregação Judaica do Brasil)

O grupo ouviu do carnavalesco suas intenções em como apresentar o Cristo e conheceu de perto como estão sendo fabricados os carros alegóricos. Alguns dos religiosos nunca haviam pisado em um barracão de Carnaval. A coluna Geledés no debate conversou com três dessas lideranças religiosas que trouxeram suas visões sobre a temática.

Segundo o babalaô Ivanir dos Santos, a ideia de Leandro Vieira é apresentar “um Cristo humano que viveu entre os marginalizados, pobres, acolhendo os necessitados”.  E o babalaô faz a mesma pergunta levantada no enredo pelo carnavalesco: “E se Jesus nascesse hoje no Morro da Mangueira, como ele seria?”. De acordo com o babalaô, os que estiveram presentes na apresentação da Mangueira, em sua maioria cristãos, compreenderam o enredo por “respeitar a figura do sagrado”.

A pastora Lusmarina Garcia disse que saiu do barracão com uma “impressão excelente”. De acordo com ela, a “Mangueira vem com o Evangelho feito arte”. Para a pastora, a escola de samba conseguiu traduzir um Jesus que ela e outros religiosos vêm pregando há anos, um Jesus periférico, negro, que acolhe a população LGBT, os pobres e as mulheres. “É o Jesus que está no sofrimento das pessoas e em Seu corpo reside a humanidade inteira. Essa cultura tão popular do Carnaval ganhou uma riqueza muito grande ao optar por essa temática”. Para a pastora, Jesus tem sido “vilipendidado por parte de igrejas que são comerciais, mercadológicas, que se desviaram do Evangelho e a Mangueira está ajudando a redimir esse Jesus”.

O rabino Nilton Bonder afirma existir uma “intenção bonita em trazer a figura de Jesus dentro da construção teológica e filosófica de buscar o excluído, o ser humano como um igual”.  Bonder considera que, “no Ocidente, Jesus é a maior figura da tolerância”. Sobre a polêmica religiosa na maior manifestação artística brasileira, o rabino lembra que esta não é a primeira vez que há discussões em torno de figuras bíblicas no Carnaval. Para ele, o importante é que “se respeite os símbolos e tradições religiosas”, e não considera um problema a arte em retratar o Cristo. “O que não pode é fazer parte de uma ideologia de ódio à uma crença”, completa ele. Após a aprovação da temática, os líderes religiosos foram convidados a desfilar no Sambódromo. E existe a chance de alguns aceitarem o convite. “A Mangueira fala sobre a intolerância religiosa e os direitos humanos que estão sendo muito afetados nos dias de hoje”, avisa Ivanir.

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