OS ESCRAVIZADOS africanos e os afrodescendentes desempenharam um papel central na construção histórica, cultural, social e também no capital econômico estrutural de todo o mundo. No Brasil, desde os tempos coloniais, a contribuição das populações negras foi essencial para o desenvolvimento do país e constituição da identidade cultural, no qual, apesar da condição violenta e desumana, forjaram-se as raízes dos saberes ancestrais negros nesse território, tornando a população negra uma “pretalhada inextinguível” nas palavras de Monteiro Lobato, renomado autor brasileiro do século XX.
O Brasil abriga a maior população afrodescendente fora do continente africano. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), mais de 56% da população brasileira se identifica como negra7, ou seja, o somatório de pretos e pardos – o que corresponde a mais de 120 milhões de pessoas. A população afrodescendente representa aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo, definição estabelecida pelo Grupo de Trabalho Especialistas em Afrodescendentes das Nações Unidas8. Essa população é formada por descendentes das vítimas do tráfico transatlântico de escravizados e do Mar Mediterrâneo, que inclui o comércio de povos africanos escravizados subsaarianos, que vivenciaram a diáspora na América do Norte, Central, do Sul e no Caribe.
Essa maioria é, historicamente, responsável por construir o país: nas cidades, no campo, nas artes, nas economias, no desenvolvimento, mesmo que dele não se beneficiem, tudo isso, por meio de resistência cotidiana ao racismo sistêmico. Além da precariedade habitacional e urbanística, essas populações enfrentam os impactos mais intensos da crise climática: moram em áreas sujeitas a deslizamentos e alagamentos, têm menos acesso a áreas verdes e vivem mais expostos à poluição e ao calor extremo, conformando, assim, as zonas de sacrifício racial.
Reconhecer as contribuições e a importância dos afrodescendentes no cenário global é um passo fundamental para a justiça e reparação histórica, e com isso promover a construção de sociedades mais justas.
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