A raça e o gênero da justiça climática: mapeando desigualdades na normativa global

Autor(a): Varios Autores
Editora: Geledés – Centro de Documentação e Memória Institucional
Data: 2025

OS ESCRAVIZADOS africanos e os afrodescendentes  desempenharam um papel central na construção histórica, cultural, social e também no capital econômico  estrutural de todo o mundo. No Brasil, desde os tempos  coloniais, a contribuição das populações negras foi  essencial para o desenvolvimento do país e constituição  da identidade cultural, no qual, apesar da condição  violenta e desumana, forjaram-se as raízes dos saberes  ancestrais negros nesse território, tornando a população  negra uma “pretalhada inextinguível” nas palavras de  Monteiro Lobato, renomado autor brasileiro do século XX.
O Brasil abriga a maior população afrodescendente  fora do continente africano. Segundo o Instituto Brasileiro 

de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), mais de 56% da  população brasileira se identifica como negra7, ou seja, o  somatório de pretos e pardos – o que corresponde a mais  de 120 milhões de pessoas. A população afrodescendente  representa aproximadamente 200 milhões de pessoas  em todo o mundo, definição estabelecida pelo Grupo de  Trabalho Especialistas em Afrodescendentes das Nações  Unidas8. Essa população é formada por descendentes  das vítimas do tráfico transatlântico de escravizados e  do Mar Mediterrâneo, que inclui o comércio de povos  africanos escravizados subsaarianos, que vivenciaram a  diáspora na América do Norte, Central, do Sul e no Caribe. 

Essa maioria é, historicamente, responsável por  construir o país: nas cidades, no campo, nas artes, nas  economias, no desenvolvimento, mesmo que dele não se  beneficiem, tudo isso, por meio de resistência cotidiana  ao racismo sistêmico. Além da precariedade habitacional  e urbanística, essas populações enfrentam os impactos  mais intensos da crise climática: moram em áreas sujeitas  a deslizamentos e alagamentos, têm menos acesso a  áreas verdes e vivem mais expostos à poluição e ao calor  extremo, conformando, assim, as zonas de sacrifício racial. 

Reconhecer as contribuições e a importância  dos afrodescendentes no cenário global é um passo  fundamental para a justiça e reparação histórica, e com  isso promover a construção de sociedades mais justas.  

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