A TERCEIRA SESSÃO do Fórum Permanente de Pessoas Afrodescendentes, realizada entre os dias 16 e 19 de abril de 2024, no Palais des Nations, em Genebra, teve como tema central “A Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes: Combate ao Racismo Sistêmico, Justiça Reparadora e Desenvolvimento Sustentável.” A escolha do tema refletiu a urgência de retomar os fundamentos que motivaram a proclamação da Década Internacional dos Afrodescendentes
(2015–2024) pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 2013. Sob o lema “Povos de Afrodescendência: Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento”, aquela década buscou enfrentar os legados do colonialismo, da escravidão e do racismo estrutural que seguem marcando as vidas negras nos quatro cantos do mundo.
Com a proximidade do encerramento da Década Internacional dos Afrodescendentes, o momento colocou uma reflexão crítica: o que foi conquistado até aqui e, principalmente, o que segue sendo silenciado? Foi nesse contexto que o Fórum estruturou uma série de painéis temáticos, voltados à construção coletiva de propostas para os próximos dez anos. As discussões se organizaram em torno de quatro eixos: Reparações, Desenvolvimento Sustentável e Justiça Econômica; Educação como caminho para superar o racismo sistêmico e os danos históricos; Cultura e Reconhecimento; e os desafios para a Segunda Década Internacional dos Afrodescendentes.
Como preparação para o Fórum, diversas organizações do movimento negro brasileiro — Casa Sueli Carneiro, Criola, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Coalizão Negra por Direitos, Instituto Peregum, PerifaConnection e Vidas Negras com Deficiência Importam — se organizaram previamente à conferência. Juntas, realizaram o terceiro encontro de uma formação coletiva, financiada pela Fundação Ford, com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre o funcionamento do mecanismo e traçar estratégias de incidência qualificada no espaço do Fórum.
Durante a preparação realizada em Genebra, no dia 15 de abril, Lúcia Xavier, co-fundadora e coordenadora da ONG Criola, expôs, de forma direta, a ausência das mulheres afrodescendentes no protagonismo dos debates do Fórum.
Diante disso, as organizações participantes da formação construíram uma fala conjunta que expressava mais do que uma crítica política: era a denúncia de uma violência simbólica e estrutural — a exclusão das mulheres negras justamente no espaço que deveria garantir sua escuta, sua presença e sua centralidade.
Não se tratava de um esquecimento casual. Era a repetição de uma lógica histórica que insiste em tornar as mulheres negras invisíveis nos espaços de poder, ainda que sejam elas as mais impactadas pelas múltiplas dimensões da opressão: racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia, capacitismo e exploração econômica.
Compartilhar