Recebemos com tristeza a notícia da morte de Clara Charf, nossa amiga, uma mulher generosa, divertida e incansável, que acreditava na humanidade mesmo quando tudo parecia dizer o contrário.
À frente de seu tempo, Clara fez da vida uma trincheira de amor e coragem. Lutou pelas mulheres, pela democracia, pelos direitos humanos e pela paz, sem nunca separar justiça de ternura.
Clara foi movida por amor e memória. Manteve-se apaixonada por Carlos Marighella e pelo que ele simbolizava: a luta por liberdade e justiça social.
Geledés – Instituto da Mulher Negra teve a alegria de caminhar ao lado de Clara em diferentes momentos. Estivemos juntas na “Campanha Nacional Mulheres pela Paz, Segurança Humana e Justiça”, e na exposição “1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo”, que homenageou 52 brasileiras por sua contribuição à paz e aos direitos humanos. Geledés divulgou essa mostra em seu portal, orgulhoso de somar-se a essa história.
Nos 15 anos de Geledés, Clara nos presenteou com uma fotografia da mãe de Carlos Marighella, símbolo da força das mulheres negras na luta contra o racismo e o sexismo. Em 2018, quando a instituição completou 30 anos, a ativista afirmou: “muitas mulheres jovens e velhas estão fazendo coisas pelos caminhos abertos pelo Geledés”.
A parceria entre Geledés e a Associação Mulheres pela Paz, fundada e presidida por Clara, também se expressou em tantos outros gestos e presenças. Nilza Iraci, coordenadora de Geledés, representou a associação em espaços internacionais, como o Fórum Internacional de Aprendizagem entre Mulheres Sobreviventes, entre outros, levando adiante o compromisso que Clara ajudou a construir.

Trajetória de lutas
A militante faleceu nesta segunda-feira (3), aos 100 anos de idade, deixando um legado de luta por direitos humanos e equidade de gênero. Estava hospitalizada há alguns dias e morreu de causas naturais, segundo informa comunicado da Associação Mulher pela Paz..
De família judia e pobre, Clara Charf nasceu em 1925, em Maceió (AL), e se mudou ainda menina para Recife (PE). Aos 21 anos de idade, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, posteriormente, integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de luta armada de esquerda que enfrentou a ditadura militar brasileira.
Junto ao guerrilheiro Carlos Marighella, militou pelo comunismo e contra a ditadura civil-militar no país. Foi companheira dele entre 1948 a 1969, até seu assassinato por agentes da ditadura.
Após a morte de Marighella, a militante se exilou em Cuba, onde viveu por dez anos até a promulgação da Lei da Anistia, em 1979, quando voltou para o Brasil e se filiou ao recém fundado Partido dos Trabalhadores (PT).
Em 2003, fundou a Associação Mulheres Pela Paz, organização que atua na divulgação da cultura da paz, por meio do desenvolvimento da igualdade de gênero, da cidadania e dos direitos humanos.
“Difícil dizer que ela apagou. Porque uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todas e todos que tiveram o enorme privilégio de aprender com ela. Vá em paz, querida guerreira”, escreveu Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres Pela Paz em comunicado sobre seu falecimento.
Nesse momento de luto, Geledés presta solidariedade aos familiares e amigos de Clara Charf e enaltece sua extensa trajetória de atuação em prol de justiça social, defesa da democracia e direitos das mulheres.