Contra a intolerância religiosa: Niterói terá Encontro de Terreiros de Umbanda

Evento, no Gragoatá tem previsão de reunir representantes de mais de 50 barracões

FONTEPor Lívia Neder, do O Globo
Cortejo realiza a tradicional entrega de presentes às iabás (Iemanjá, Oxum e Iansã) na Praia da Boa Viagem Rafael (Foto: Timileyi Lopes)

Com o intuito de promover a identidade cultural da religião de matriz africana criada no Brasil e de combater a intolerância religiosa, a primeira edição do Encontro de Terreiros de Umbanda será realizada na próxima sexta-feira, das 15h às 22h, no Clube Gragoatá. A expectativa da organização é reunir representantes de mais de 50 terreiros do estado, principalmente os de Niterói e São Gonçalo. O evento é gratuito.

Promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, a feira cultural contará com palestra sobre legalização de terreiros, realizada pela Defensoria Pública do Estado; entrega de homenagens; e uma grande gira deumbanda. O evento é realizado em parceria com Casa da Jurema — Mãe Lelê, Centro Espírita Caboclo Sete Flechas das Matas — Mãe Renata e Pai Bruno, Ilé Asé Omo Yemanjá — Pai Marcos de Yemanjá e Ilé Asé T’Ògún Korodé — Pai Guaraci T’Ógun Korodé.

— Esse encontro é importantíssimo para fortalecer nossa ancestralidade, nossa cultura, nosso povo. A umbanda é uma religião brasileira, e muitos brasileiros têm duas religiões. A umbanda é acolhedora, abraça todos, não tem cor, gênero. Esse evento é de grande importância para nós demonstrarmos nossa união, a força do povo de axé, mostrar que o povo da umbanda tem força para acabar com essa intolerância religiosa. Queremos apenas que nos respeitem, assim como respeitamos a todos. Fé é para todos, e cada um tem a sua paixão por Deus. Todo religioso é propagador da fé — destaca Pai Guaraci, que é líder religioso de um terreiro no Fonseca e lembra que todas as pessoas, umbandistas ou não, são bem-vindas no evento. — Precisamos desse intercâmbio.

Entre as personalidades de destaque confirmadas no encontro estão a ialorixá de Obaluayê Mãe Marcia Marçal, a vereadora do Rio de Janeiro Luciana Boiteux e o deputado federal Pastor Henrique Vieira. A presidente da Comissão de Direitos Humanos, da Criança, do Adolescente e da Mulher da Câmara de Niterói, vereadora Benny Briolly (PSOL), fala da importância do movimento dos povos de matriz africana.

— A nossa mobilização política é crucial para assegurar a preservação e a promoção de nossa identidade cultural, debatendo sobre direitos e interesses, bem como para combater o preconceito e a discriminação que historicamente enfrentamos. Niterói é uma cidade que tem ancestralidade, que é repleta de terreiros de umbanda e candomblé, e o objetivo da atividade é reunir estas pessoas para que possamos trocar experiências, compreendendo que unidos conseguimos cobrar dos órgãos competentes as nossas demandas religiosas — explica a parlamentar.

Apesar de o Brasil ter se tornado um Estado laico há mais de 130 anos, os adeptos das crenças de matriz africana são os que sofrem a maioria dos ataques de intolerância religiosa no país. A vereadora destaca que dados doDisque 100, canal para notificação de violações de direitos humanos do Governo Federal, revelam que o número de denúncias aumentou 106% em apenas um ano, passando de 583 em 2021 para 1.200 em 2022, uma média de três por dia.

— O encontro tem o objetivo de dar visibilidade para as religiões de matriz africana junto aos políticos e a toda a sociedade e, em especial, visa a combater toda e qualquer discriminação e intolerância com ênfase nas religiões e no povo negro. Aumbandaé uma religião brasileira que surgiu em Niterói e tomou proporção nacional. Através de nossa organização política nós nos unimos em busca de melhorias sociais e econômicas. E também para influenciar a tomada de decisões políticas que afetam nossas vidas e estabelecer mecanismos de proteção contra a violência e a opressão — reforça Benny.

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