E chegou novembro, o Mês da Consciência Negra.

Por Arísia Barros

 

Gurgumba, o quilombo localizado no município de Viçosa, Alagoas é rasgado pela arquitetura da não existência.

Chama atenção a forma desordenada de convivência entre os trilhos de trem, pálidos casebres de taipa e crianças- órfãs do espaço das brincadeiras infantis. Os trilhos são os companheiros do faz-de-conta das invisíveis 80 crianças quilombolas de Gurgumba.
Os trilhos de Gurgumba transportam o açúcar, o ouro da cana e empobrecem a riqueza da história de um povo.

As 80 crianças de Gurgumba não tem trilhos que as leve para a escola. Vão em grupos. Não vão de trem. O trem dos trilhos de Gurgumba transporta o ouro da cana. Não transportam crianças. Elas vão em grupo, quase em bando. Uma maiorzinha de 10 ou 12 anos “vigia” os mais novos.

As crianças de Gurgumba que vão em grupo para a escola, pois, o trem prioritariamente, carrega o ouro da cana, têm que suportar nos ombros, ainda frágeis, o peso de serem quilombolas.

Como não tem estradas que as tirem do confinamento do analfabetismo as guerreiras mirins atravessam o matagal e vão à caça das letras, na escola, no centro de Viçosa.

A infância das 80 crianças de Gurgumba pede atenção. Infância rima com desenvolvimento humano.

O desenvolvimento humano das crianças de Gurgumba tem mobilidade reduzida. Falta espaço de crescimento.

Banhado pelo Rio Paraíba, o quilombo de Gurgumba, vive em um oceano de necessidades.
A infância das crianças de Gurgumba sofre com o humor das águas. Elas basicamente moram entre os trilhos que transportam ouro e a violência do Paraíba no local.

As 80 crianças em Gurgumba têm a pele manchada pelo descaso com a infância. Feridas de difícil cicatrização.

As crianças do quilombo de Gurgumba são subcidadãs alagoanas, apesar de Zumbi..

E chegou novembro, o Mês da Consciência Negra.

As crianças quilombolas de Gurgumba não têm muito para comemorar.

 

 

Fonte: Cadaminuto

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