Escola infantil é novamente pichada por neonazistas em SP

A escola já havia sido vítima de outras pichações de caráter racista no dia 16 de novembro de 2011

por Fernando Knup

Funcionários, pais e alunos da Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes foram surpreendidos no início deste mês por novas pichações de cunho racista e neonazista. A escola, localizada no bairro do Limão, na zona norte da cidade de São Paulo, já havia sido vítima de pichações no final do ano passado.

No mesmo dia 3, a escola realizou uma das rodas de conversa temáticas bimestrais entre corpo docente e pais para discutir temas relevantes ao convívio das crianças quando a temática do racismo e da diversidade foram novamente colocados em pauta com o título “Encontro contra os desencontros”. A roda contou com a participação do Movimento AnarcoPunk, grupo que realiza atividades relacionadas ao respeito às diferenças e em memória às vítimas da intolerância. Apesar do ato de vandalismo, a atividade foi realizada normalmente e com grande participação de pais de alunos.

A diretora da escola, Cibele Racy, afirmou que a escola, que possui alunos entre três e cinco anos, é alvo dessas práticas graças ao trabalho de levantar temas relevantes para alunos e pais, entre eles as relações étnicas e raciais. “A escola fica em evidência por essas coisas (as pichações), mas na verdade o problema é que o trabalho que nós realizamos aqui é muito sério. Esse ano nós vamos ampliar nosso foco de trabalho, queremos um trabalho multirracial, porque temos alunos filhos de imigrantes bolivianos, orientais, negros, brancos. Não fazemos apologia ao negro, trabalhamos a diversidade cultural. As crianças e os pais tem um carinho pela escola e é isso que nós queremos resgatar, essa relação da família com os professores e com a comunidade, queremos resgatar esse lado.”

Johnny, um dos representantes do grupo AnarcoPunk que apresentou um vídeo que utilizava a agressão contra a escola como gancho para a discussão sobre respeito e tolerância, explicou que essas pichações são realizadas por skinheads, que se juntam em grupos para praticar atos de violência pela cidade.

“Essas pichações foram feitas por skinheads que costumam usar símbolos como a suástica nazista, a cruz celta. Ao resgatar o ensinamento da cultura negra e da diversidade, batendo nessa tecla contra o preconceito, automaticamente esses grupos racistas intolerantes se sentem incomodados. A gente vê o ato covarde quando uma escola onde só tem criança é alvo desses grupos, achando que estão fazendo terrorismo ao pichar. Aqui só tem crianças, a maioria dos professores são mulheres, tem funcionários negros. Nós acreditamos em um mundo onde caibam vários mundos, que tenha respeito às diferenças, que seja contra o preconceito.”

“Orgulho Branco”

No próprio bairro é fácil encontrar outras pichações deixando claro que existem grupos radicais no local. Na chegada a escola um morador removia uma suástica pichada na porta de sua mecânica, seguida dos dizeres “Orgulho Branco”, “apareceu essa madrugada, a gente apaga porque senão podem pensar que fui eu que fiz”, dizia o responsável pela mecânica que não quis se identificar por medo de represálias.

Segundo Johnny, “esses grupos estão organizados, por isso, tornou-se frequente todo fim de semana ataques contra negros, moradores de rua, homossexuais, rappers, imigrantes. Não é somente uma ganguezinha, eles tem apoio de políticos, eles tem costas quentes, são filhos de pais ricos, que tem dinheiro para advogado, por isso, eles agem, por saber que a justiça não vai depor contra eles, eles fazem porque sabem que vão ficar impunes. Hoje eles picham, amanhã esfaqueiam um professor, matam a diretora. A mídia coloca como briga de gangue, temos que abrir o olho pra essas coisas, e onde localizarmos esses grupos denunciarmos, informar aos amigos, para não corrermos o risco de sermos as próximas vítimas”.

Outros moradores também informaram que um membro de grupos intolerantes mora na rua ao lado da escola. “Ele fica com os amigos andando de carro pra lá e pra cá, essa semana mesmo estava ofendendo um senhor aqui da rua, em um carro junto com amigos.” Por isso, os moradores ainda sofrem com medo de ameaças, “eu não falo nada, eles podem agredir meus pais, são muito covardes, temos medo”.

Questionada sobre como o trabalho da escola é prejudicado com essas ameaças, a diretora esclarece que essas ações acabam aumentando a aceitação dos pais de alunos que entendem a importância do trabalho do corpo docente. “Apesar desse tipo de situação, agente só se fortalece” , diz ela.

Pichações antigas

A escola já havia sido vítima de outras pichações de caráter racista no dia 16 de novembro de 2011. Uma das pichações deixava clara a oposição às práticas de ensino da escola com a frase ‘vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas’ acompanhada de uma suástica, um dos principais símbolos utilizados pelos adeptos da ideologia nazista. Após as pichações, a escola organizou um mutirão de grafitagem no muro, permitindo que as crianças, moradores do bairro e grupos que discutem o estímulo à diversidade e o combate a intolerância interagissem e dessem o colorido às paredes da escola.

Em tempo, a escola ainda não teve resposta sobre o inquérito realizado pela polícia civil após as pichações realizadas no ano passado. “A gente ficaria sabendo, além do 40º (DP), eu fui na Decradi e nada foi passado pra gente sobre nenhuma novidade do caso.” Questionada, a Secretaria de Segurança Pública informou também não ter nenhuma novidade sobre o inquérito.

Um vídeo produzido pelo grupo AnarcoPunk que se solidarizou com os funcionários da escola.

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