Entre os dias 1 e 6 de setembro, Geledés – Instituto da Mulher Negra marcou presença na Africa Climate Week, realizada em Adis Abeba, na Etiópia, um dos encontros regionais promovidos pela Semana do Clima da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), para debater soluções diante da crise climática. O evento reuniu governos, sociedade civil, movimentos sociais e organizações internacionais para fortalecer a cooperação e ampliar compromissos em torno da meta global de limitar o aquecimento a 1,5ºC.
A participação de Geledés teve como objetivo reafirmar o papel estratégico das organizações afrodescendentes brasileiras na agenda climática internacional, ampliando diálogos para o combate ao racismo ambiental, por direitos humanos e destacando como a crise ambiental impacta de forma desigual mulheres, populações afrodescendentes e comunidades periféricas.
Durante a semana, a delegação de Geledés acompanhou painéis e encontros de alto nível, dialogando sobre temas como Objetivos Globais de Adaptação, Financiamento para Adaptação, Transição Justa e sobre o Plano de Ação de Gênero, temas centrais que serão definidos na COP30 em novembro, na cidade de Belém do Pará.
Em um dos diálogos bilaterais realizados, Geledés se encontrou com Dr. Richard Muyungi, Presidente do Grupo Africano de Negociadores sobre mudanças climáticas e Sarah Pima, Coordenadora de Juventude e Gênero no Grupo Africano de Negociadores para reforçar a importância do nosso diálogo durante as negociações no âmbito da UNFCCC.
Neste ano, a União Africana proclamou como seu lema “Justiça para Africanos e Afrodescendentes por meio de Reparações”, com o objetivo de enfrentar as injustiças históricas do tráfico de escravizados e do colonialismo por meio de ações como a restituição material, a recuperação das narrativas culturais e a formação de uma frente unida para exigir reparações das nações que perpetraram essas injustiças. Esse representa mais um passo para o reconhecimento das populações afrodescendentes ao redor do mundo enquanto parte da solução para a crise climática.
Para Geledés, a presença na Africa Climate Week representa um passo fundamental na construção de pontes entre organizações do Sul Global e no fortalecimento de vozes que colocam o antirracismo e a equidade de gênero no centro das negociações climáticas.
“É central para Geledés reforçar em todos os espaços multilaterais que a população afrodescendente deve ser reconhecida nos principais textos de negociação, e que a participação de organizações afrodescendentes sejam cada vez maior nos espaços de negociação. Ter a oportunidade de reforçar nossa parceria com países africanos e com organizações aliadas da agenda central para o Brasil foi muito importante. E um caminho próspero e animador para grandes resultados na COP30. Estar na Africa Climate Week nos permite construir alianças estratégicas, afirmar nosso protagonismo e garantir que justiça racial e de gênero sejam prioridades na agenda climática global.”, disse Mariana Belmont, Assessora de Clima e Racismo Ambiental de Geledés.
Com essa atuação, Geledés reafirma seu compromisso em articular a luta por direitos humanos, justiça racial e igualdade de gênero à agenda climática global, rumo à COP30, que será realizada no Brasil em 2025.
Sobre a Semana de Clima da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)
A Semana do Clima é uma plataforma global para acelerar a implementação climática, reunindo governos, especialistas técnicos, instituições financeiras, sociedade civil e jovens para transformar ambição em ação. Faz parte da série Semana do Clima da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que reúne atores regionais e globais para enfrentar desafios reais de implementação e identificar soluções escaláveis.
No centro da semana está o Fórum de Implementação, um espaço dedicado ao diálogo aberto e voltado para soluções, com o objetivo de identificar barreiras, cocriar condições favoráveis e transformar compromissos em resultados mensuráveis. As discussões se concentraram na necessidade urgente de esforços mais intensos de adaptação, garantindo, ao mesmo tempo, que a transição para economias de baixo carbono ocorra de forma justa, inclusiva e socialmente justa. Um foco fundamental também será o desbloqueio e o alinhamento do financiamento para a implementação — inclusive por meio do potencial inovador dos mecanismos do Artigo 6 do Acordo de Paris.
Além de eventos obrigatórios e diálogos de alto nível, a semana promove um ambiente inclusivo e voltado para a ação, unindo ambição e implementação, ampliando diversas perspectivas globais e estabelecendo as bases para resultados confiáveis na COP30 e além.
“Para nós a agenda de adaptação tem se demonstrado central pois o reconhecimento das populações afrodescendentes foi retirado do texto de negociação da Meta Global de Adaptação (GGA) no último dia de negociações em Bonn sem quaisquer justificativas para isso. Nosso trabalho daqui até a COP30 será de convencimento para que esse reconhecimento seja garantido e assim a gente possa ter dados que levem em consideração as contribuições das comunidades afrodescendentes ao redor do mundo para a adaptação climática e resiliência nos territórios. A Semana de Clima de África se mostrou relevante para estreitar ainda mais o diálogo com os negociadores de adaptação sobre a importância desse reconhecimento, tendo respaldo da presidência da COP30 a partir das falas públicas de André Corrêa do Lago e Ana Toni reconhecendo as populações afrodescendentes do Brasil.”, completou Thaynah Gutierrez, Assessora de Clima e Racismo Ambiental de Geledés, que também esteve em Adis Abeba.