Jeferson De, Spike Lee e o novo Cinema Negro

Reprodução/Facebook

Essa semana começa duas mostras interessantes em São Paulo, uma delas é “Spike Lee e o Novo Cinema Negro”, que estreia amanhã (24) no Centro Cultural São Paulo, onde serão apresentados nove filmes do ator. A outra reúne uma maior quantidade de filmes e uma pluralidade de gêneros, embora mantenha seu foco, o 13° Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que tem seu início marcado para o dia 25 (quarta).

Por  Tadeu Elias Conrado, do A Lanterna Mágica

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O que esses dois eventos têm em comum? A mostra do diretor Spike Lee já mostra em seu título, já o Festival Latino-Americano traz como homenageado o realizador Jeferson De, que começou suas manifestações em prol do cinema negro muito antes de entrar em pauta o sistema de cotas raciais (iniciada em 2003) com a criação do Dogma Feijoada, no ano 2000. O manifesto estabelecia que: 1) o filme tem de ser dirigido por realizador negro brasileiro; 2) o protagonista deve ser negro; 3) a temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira; 4) o filme tem de ter um cronograma exequível; 5) personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos; 6) o roteiro deve privilegiar o negro comum brasileiro. Seu filme de estreia foi Bróder (2009), recebeu prêmios em Gramado e Paulínia, além de ser selecionado no 60° Festival de Berlim.

Em 2016 Spike Lee divulgou em seu Instagram um comunicado falando sobre a ausência de negros nas categorias Melhor Ator/Atriz e Melhor Ator/Atriz Coadjuvante. Embora naquele ano não houvessem atrizes ou atores negros que pudessem concorrer ao prêmio, sua publicação foi importante para que a indústria cinematográfica abrisse os olhos para a questão. No ano seguinte o diretor Barry Jenkins recebeu o prêmio de Melhor Filme com Moonlight e tivemos nomes como Denzel Washington, Naomi Haris, Viola Davis e Mahershala Ali, sendo que esses últimos dois receberam os prêmios em suas categorias. O comunicado de Spike Lee não foi o responsável por essas conquistas, foi só um mediador disso, ele deu a oportunidade para que mais negros chegassem ao cinema e mostrassem seu trabalho e recebessem reconhecimento por isso.

As coisas estão mudando no cinema, não só no Brasil, no mundo inteiro. Isso não se refere apenas ao Cinema Negro, mas também nas questões de gêneros. Podemos ver em festivais como esses, que buscam dar oportunidades aqueles que outrora não encontravam seu espaço, ou uma forma de falar e ser escutado. E tudo isso não é algo que favorece somente esse pessoal que está encontrando seu espaço, mas o público em geral que recebe através não só do cinema, mas de diversos meios, novas histórias, culturas e conhecimento. Por isso vemos a necessidade que Spike Lee viu em 2016, que Jeferson De viu em 2000 e tantas outras pessoas viram muito antes deles, a necessidade de falar sobre o assunto, quebrar o tabu e colocar as cartas na mesa, para que todos joguem o mesmo jogo e assim, todos saem ganhando. 

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