Luís Miranda fala sobre homossexualidade: “Toda vez que uma pessoa sai do armário, ajuda outra a sair de lá também”

Em entrevista à empresária Crisciane Rodrigues para o canal do YouTube Universo da Cris, ator e comediante falou sobre preconceito e os limites do humor

Do Gaucha ZN

Luiz Miranda
Miguel Sá / Revista Contigo!

Entre uma gravação e outra da quarta temporada de Mister Brau, prevista para estrear sua nova temporada em abril na RBS TV, Luis Miranda arranjou tempo para participar de um vídeo do canal do Youtube Universo da Cris. Em entrevista à empresária Crisciane Rodrigues, o ator e comediante apontou como um dos maiores sacrifícios feitos em prol de um personagem os rituais de beleza a que teve de aderir para dar vida a Dorothy Benson, personagem da novela Geração Brasil, exibida pela RBS TV em 2014.

–  Depilava a perna, tirava a sobrancelha, andava de salto o tempo inteiro para a Dorothy Benson – relembrou – Tinha toda uma alma feminina e humana que estava emprestando para a personagem que me rendeu críticas e prêmios maravilhosos. E isso é um presente, toda vez que as pessoas não nos colocam como um ator rotulado.

Dorothy Benson rendeu ao ator críticas positivas e prêmios
João Cotta / TV Globo/Divulgação

Foi nessa época que Miranda falou pela primeira vez sobre sua sexualidade, tema que também foi discutido na entrevista a Crisciane.

– Toda vez que uma pessoa sai do armário, ela automaticamente ajuda outra a sair de lá também. Alguém que estava maltratado, alguém que estava humilhado, alguém que estava se machucando, alguém que estava ferido. Porque se julga que a posição sexual de alguém pode interferir no crescimento, no rendimento, no trabalho e na sua vida social. Isso não existe. Uma pessoa declaradamente homossexual pode fazer uma cena de beijo heterossexual, pode também fazer uma cena feminina, pode fazer qualquer coisa. Ele é um artista. Isso não tem nada a ver com suas preferências.

Formado em Artes Cênicas pela USP, o baiano ressaltou a preocupação ética que norteia a criação de seus personagens, que vão de Dona Edith, mulher negra e pobre que ensina o público do espetáculo Terça Insana a criar filhos na favela com a escassez de dinheiro e de comida, a Madame Sheila, socialite “geneticamente modificada” habituada ao luxo hiperbólico em Cinco Vezes Comédia.

– A gente fala tanto do pobre como do rico. Porque, para mim, a gente tá na mesma balança. Somos seres humanos. Morreu, todo mundo é igual. O que nos diferencia, mesmo, é como somos em relação ao outro.

Um fator determinante para o respeito na relação com o outro, na opinião de Miranda, é a educação.

– Nós vivemos num país muito ignorante. Quando digo ignorante, eu digo que a falta de recursos para investir na educação vai empobrecendo intelectualmente o povo brasileiro. Esse empobrecimento não é só de recursos. Então isso, obviamente, vai impedir um ator homossexual de declarar sua sexualidade e ajudar outras pessoas a se libertarem, a serem felizes. Mas isso vem muito desse país com poucos recursos para a educação. De entendimento pequeno sobre qual é a diferença entre sexualidade e comportamento sexual.

Negro, gay e nordestino, Miranda contou que não deixa o preconceito afetar sua vida. Em vez disso, usa-o como um espelho, fazendo o outro enxergar que é preconceituoso. No delicado terreno da coe elevar e rir daquilo que é tachado de ridículo.

– Acho que o humor tem, sim, responsabilidade. Há de se fazer o humor com o mínimo tom de respeito para que não se ofenda ninguém e aquilo realmente seja risível. Pode-se brincar com tudo, só não dá pra depreciar a maneira como você brinca. Dá pra brincar com gay, dá pra brincar com negro, dá pra brincar com gorda, dá pra brincar com grávida, dá pra brincar com todo mundo, quando a gente respeita. Acho que o riso pelo riso só se dilui. Não faço as coisas apenas pelo sucesso. Gosto de fazer coisas que importam.

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