Moreno, cangaceiro de Lampião

Por: ESTÊVÃO BERTONI

Um dos maiores medos de Antônio Inácio da Silva era ter sido decapitado, como fizeram com os seus pares. Sobrevivente do cangaço, Moreno, como era chamado, integrou o grupo de Lampião.

No fim dos anos 30, as cabeças de Lampião e Maria Bonita foram expostas ao público, como troféu. Pouco depois, Moreno e a mulher, a também cangaceira Durvalina, fugiram para Minas.

Deixavam para trás um filho, nascido quando o bando ainda existia -o menino não pôde ficar entre os cangaceiros, pois seu choro poderia denunciá-los. Foi, então, dado a um padre, que o criou.

Em Minas, o casal teve cinco filhos. Um deles, Murilo, conta que o pai foi agricultor, carvoeiro e comerciante.

Por precaução, Moreno passou a se chamar José Antônio Souto. Durvalina tornou-se Jovina Maria. E o passado virou segredo até para os filhos. Aos poucos, porém, o casal deixou escapar a existência do primeiro filho, e os outros decidiram procurá-lo.

Em 2005, Inácio, o menino deixado com o padre, finalmente reencontrou os pais, para a alegria da família.

A participação do casal no cangaço acabou conhecida por todos, virou livro (“Moreno e Durvalina – Sangue, amor e fuga no cangaço”, de João de Sousa Lima) e até filme, ainda não lançado -o sonho de Moreno era vê-lo.

Viúvo há dois anos, ele morreu na segunda, aos cem, após sofrer parada cardiorrespiratória. Anteontem, em Belo Horizonte, atendendo a um desejo seu, houve fogos em seu enterro, para comemorar o fato de ele ter morrido sem ter sido decapitado em seguida.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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