A artista plástica baiana Yeda Maria Correira de Oliveira, de 84 anos, foi encontrada morta no apartamento onde morava, no bairro da Pituba, em Salvador. De acordo com pessoas próximas à artista, ela foi encontrada no apartamento, por uma vizinha, na noite de domingo (27). Yeda morava sozinha e sofria de diabetes e hipertensão.
Segundo o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que fez o registro do caso, a suspeita é de que a morte tenha sido natural, já que não foram encontradas lesões no corpo da artista plástica.
O corpo de Yeda Maria foi encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) em Salvador, e por volta das 16h ainda permanecia no local. Ainda não há detalhes sobre o velório.
Yeda Maria era conhecida internacionalmente e tem obras expostas em museus dos Estados Unidos e Europa. Em novembro de 2015, obras de Yeda fizeram parte da programação especial do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) para o Mês da Consciência Negra.
Yêda Maria: A cor sem rancor
do O Menelik
Fotos MANDELACREW
No mesmo ano volta à Bahia e estuda gravura com Henrique Oswald. O professor, entusiasmado com os resultados da aluna, envia uma gravura da artista para o Festival de Artes de Ouro Preto, em Minas Gerais, onde ela é premiada no seguimento Artes Gráficas. Isso a estimula a conhecer mais as técnicas de impressão.
Os anos 50 e 60 serão, para ela, marcados pela produção plástica de paisagens e cenas marinhas. A pincelada inicial é forte e expressiva, mas logo a artista direciona seus interesses para a síntese que une cor e geometria. Os barcos são reduzidos a sugestões que captam deles o mínimo geométrico; a cor que se tornará uma marca importante na produção da artista começa a revelar-se frutífera.
Na composição Barco com frutas, de 1964, é exatamente o que ocorre: observe que os barcos são identificáveis apenas por triângulos a evocar velas hasteadas – tornam-se apenas detalhes, formas cromáticas. Nesse mesmo trabalho apresenta-se pela primeira vez o tema que ganhará enorme vigor na produção da artista – a natureza-morta.
Este gênero, do qual Yêda extrairá uma incrível quantidade de cores alegres e iluminadas e que atualmente é a marca principal de seus trabalhos, é resultado da observação sistemática de seus modelos – frutas, flores, mesas arrumadas com esmero -, representações que dão o tom de uma organização estética do mundo. Assim, se nessa pintura as frutas têm certo destaque na composição, mais adiante elas se tornarão o centro das atenções e do investimento – a alimentação absorverá completamente os interesses da artista baiana.A arquiteta Lina Bo Bardi certa vez disse a Jorge Amado: “preste atenção a essa jovem, tem talento e futuro”.Em meados de 1969, seus trabalhos passam a fazer alusão à feminilidade, misto de religiosidade afro e preocupações feministas comuns naquele período. Já em 1972, a artista une colagem e pintura como em Yemanjá com luz, trabalho que mostra uma imagem de Martin Luther King (1929-1968) na altura do ventre de Iemanjá, orixá importante na Bahia, no Rio de Janeiro e São Paulo. No mesmo ano, em decorrência desses experimentos, surge Yemanjá todos iguais e O mundo de Yemanjá, trabalhos fortes que difundem esse orixá como sendo, no limite, capaz de dar uma lição de humanidade; Yemanjá une a diversidade humana em si mesma.
Atualmente com 78 anos e morando em uma pacata rua do bairro de Pinheiros, em São Paulo, cidade onde vive a menos de um ano, a artista está envolvida com a produção do tema que mais tem afinidade, a natureza-morta. Sua versão é cheia de vida; arranjos cromáticos de formas precisas. Suas obras tratam de um embelezamento do cotidiano: mesa bem posta, utensílios domésticos de gosto apurado e alimentos fartos. Mesas sempre à espera dos convidados.
Yêda Maria tem trabalhos em coleções privadas no Brasil e no estrangeiro e em instituições de arte, dentre elas o Museu de Arte da Bahia e a Universidade de Illinois.
YêdamariaEdição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Museu Afro Brasil
Direção de arte: Paulo Otávio Gonçalves
Coordenação editorial: Cecília Scharlach
2006