Não Vote No Inimigo

Maurício Requião

Mais de 144 milhões de eleitores deverão ir às urnas em 2 de outubro próximo para eleger 5569 prefeitos e cerca de 57 mil vereadores. Mais da metade desses eleitores é formada por negros. (Pretos e pardos, segundo o IBGE). Todos vivemos em cidades e o funcionamento delas têm a ver diretamente com a nossa cidadania.

Por Helio Santos Do Brasil de Carne e Osso 

O ato de votar é o único que iguala a todos: branco e negro; homem e mulher; rico e pobre. O voto de um homem milionário vale tanto quanto ao da mulher que limpa as privadas de seu escritório. É o único momento que todos valem a mesma coisa.

Se tomarmos em conta os indicadores, como rendimento médio domiciliar, acesso à Educação de qualidade, taxa de desemprego, condições de habitação, qualidade dos serviços de saúde e transporte, vê-se a precariedade que atinge de forma aguda a população da periferia, em sua maioria negra. Ora, a precariedade da população negra decorre da ausência de políticas públicas adequadas. Tal ausência é motivada pelo racismo institucional, que antecede a tudo isso. Nas cidades, quem cuida dessas políticas são os prefeitos e vereadores. Pela qualidade de vida que tem a população negra brasileira pode-se depreender que ela vem votando em quem não gosta dela. Nós elegemos e damos poder àqueles que uma vez eleitos vão operar na contramão dos nossos direitos de cidadania.

Tais políticos fazem um silêncio sombrio sobre as mortes avassaladoras da juventude negra. Não têm proposta para as nossas periferias a não ser referendar a violência. Violência que se dá pela falta de creches, postos de saúde, centros culturais e culmina com a ausência de oportunidades que arrasta a juventude pobre e negra para a morte. Quando aqueles equipamentos existem, não têm qualidade. As regiões mais carentes precisam ser compensadas com creches, postos de saúde, escolas e centros de lazer de excelência.

O melhor para quem tem menos: equidade regional. A gestão municipal funciona hierarquizando os cidadãos: os de primeira e segunda classe. Não conseguem perceber que o investimento qualificado nas periferias faz brotar ouro, como se viu com o sucesso dos ganhadores das olimpíadas que não vieram dos bairros ricos. No dia da eleição, quando vejo o povo preto nas filas para votar, sinto-o como gado indo para o matadouro, pois é o único eleitor do mundo que elege os seus inimigos.

É um escândalo a população negra eleger e empoderar aqueles que, uma vez eleitos, cuidarão com zelo da destruição de seus sonhos. Essa perversidade se deve, principalmente, pela forma sofisticada do racismo atuar em um país de maioria negra, onde os meios de comunicação e a Educação existem para perpetuar a ordem vigente desde sempre.

Por conta disso, o blog BRASIL DE CARNE E OSSO vai sugerir alguns candidatos e candidatas para as Câmaras Municipais de Salvador, São Paulo, Rio e Belo Horizonte, os quais vão operar a favor dos direitos dessa maioria negra tão mal representada. Aguardem.

Sem o trabalho de multiplicação pelas redes sociais, WhatsApp e outros meios eletrônicos, não vai acontecer. Portando, vamos sugerir também uma metodologia mínima. A campanha é cara e curta e esses candidatos que serão apresentados não são ricos, mas têm compromisso e capacidade: duas coisas necessárias e complementares para o bom exercício da vereança.

-+=
Sair da versão mobile