Neutralidade de Marina no 2º turno pode ser erro político, dizem especialistas

Por: Marina Novaes

Candidatos assediam Marina, mas impacto de apoio sobre o 2º turno é incerto


Após conquistar mais de 19,6 milhões de votos, a terceira colocada na disputa pela Presidência, Marina Silva (PV), é alvo de assédio tanto de membros da campanha de Dilma Rousseff (PT) quanto de José Serra (PSDB), que buscam seu apoio no segundo turno da eleição. Embora dê sinais de que se manterá neutra, especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que a estratégia pode ser um erro político, principalmente se Marina quiser voltar a concorrer ao cargo em 2014.

Isso porque, dizem os especialistas, a postura de ficar “em cima do muro” vai contra o que a própria senadora chamava de uma “nova forma de fazer política”. Além disso, tanto Marina quanto o PV precisam pensar em uma maneira de mantê-la na mídia para que ela não seja esquecida pelos eleitores – o mandato da senadora termina neste ano. Neste sentido, a verde poderia ou se firmar como uma liderança da oposição, ou se aliar ao candidato vencedor para continuar no poder.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), admite que a senadora está em uma “saia justa” – Marina era do PT até 2009, mas o PV dá sinais de que poderá apoiar o PSDB. Segundo ele, o eleitor pode até não concordar com a decisão dela, porém, fazer política é “correr riscos”.

– Não acho que a neutralidade seja a melhor alternativa para Marina. A postura de dizer ‘vocês resolvam aí, que não tenho nada com isso’ é uma postura de uma liderança que quer se firmar, […] mas acho que dificilmente esse posicionamento será percebido pelos eleitores como adequado, porque isso é simplesmente abrir mão de tomar uma decisão.

O cientista político Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), concorda com o colega que não apoiar nem um nem outro pode não ser a melhor saída para a ex-candidata. Ele, entretanto, vê na situação uma oportunidade para que a verde consiga tirar do papel algumas das propostas feitas ao longo da campanha.

– A Marina saiu da disputa com um capital político muito grande. Se ela declarar que prefere ficar neutra, isso sinalizará a possibilidade de se candidatar [à Presidência] em 2014. Mas eu acho que ela tem de se valer exatamente do capital que aferiu nas urnas para negociar uma agenda com o provável vencedor.

Marina e o PV devem anunciar uma decisão neste domingo (17), após convenção da legenda. Mas antes de tomar uma decisão, a verde apresentou aos dois candidatos uma série de propostas que espera ver incorporadas aos programas de governo dos presidenciáveis. O apoio da terceira colocada na disputa pode sair da aceitação destas sugestões, medida elogiada por Fornazieri.

– O candidato que queira ser realmente um líder autêntico tem que olhar mais para o povo que para si mesmo. E, nesse sentido, a Marina daria uma contribuição inestimável para o país se negociasse particularmente com aquele que tende a vencer as eleições uma agenda em torno dos pontos que levantou durante a campanha.

Embora o PV sinalize que poderá apoiar Serra – o deputado federal e candidato derrotado ao governo do Rio, Fernando Gabeira (PV), já declarou que votará no tucano –, o mais coerente é que Marina apoie o PT, avalia o especialista da UFMG. Mas apesar de ter sido uma das fundadoras da sigla, o Partido dos Trabalhadores foi alvo de diversas críticas da verde ao longo da campanha, o que complica ainda mais a situação da senadora.

– Ela fica em uma decisão um pouco difícil. Porque ainda que tenha reserva em relação a um ou ao outro, ela chegou a dizer que os dois são a mesma coisa, membros daquela ‘velha política’. Mas como ela tem uma longa trajetória no PT, acho que seria estranho para o eleitorado se ela, de repente, apoiasse o outro lado.

 

 

Fonte: R7

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