O laboratório da violência

Fonte: Seculo Diário –

 

 

Dos laboratórios da Fibria (ex-Aracruz) não sai apenas pasta de celulose. Saem maldades e violência contra as comunidades tradicionais das quais essa empresa usurpou grandes extensões de terras e às quais perseguiu e persegue com a força de seu poderio econômico, de sua influência na mídia corporativa e, sempre que necessário, nas ações de sua milícia particular, além, é claro, do apoio do aparelho policial do Estado.

Essa rotina da empresa vem de longe, mas, sem dúvida alguma, intensificou-se e ganhou foros de escândalo nas duas gestões de Paulo Hartung.

O governador, evidentemente, não aparece, não assume o papel de algoz de índios e quilombolas. Mas, como tem o domínio completo de nossas instituições, terceiriza as agressões e fica de longe assistindo o espetáculo do circo a pegar foto.

A um sinal da ex-Aracruz, entram em cena juízes para criminalizar os povos massacrados e ilhados pelos eucaliptos. Só Deus sabe o quanto sofreram nas mãos dos reis da celulose os índios que lutavam pela retomada de suas terras.

Ainda existem terras deles não retomadas, mas uma boa parcela delas lhes foi devolvida depois de muitos anos de luta e de estudos que acabaram por comprovar serem eles os seus legítimos proprietários. Hoje, falta pouco para que as terras retomadas comecem a assumir características de áreas indígenas, proporcionando a produção de alimentos e a preservação da cultura que nelas sempre vicejou.

A luta atual dos descendentes de quilombolas é, em tudo por tudo, semelhante à dos indígenas: sofrida, dolorosa, desigual. Têm os negros contra si – a exemplo do que tiveram os índios – a postura subalterna do governo do Estado aos interesses da empresa que os expulsou e agora os humilha com ações policiais violentas engendradas em fórmulas revestidas de horror e praticadas sem dó nem piedade pela força policial do governo do Estado.

O espetáculo de violência e arbitrariedade a que assistimos nas últimas horas, em Conceição da Barra, norte do Estado, não encontra paralelo em nenhum outro estado. Residências invadidas, cidadãos trabalhadores algemados e presos, crianças desembargadas do ônibus que as transportava de volta da escola para serem observadas por olhares investigativos, bens domiciliares depredados, uma jovem indignada agredida com tapa no rosto – nada faltou para deixar bem claro que quem manda e desmanda neste Estado – inclusive na Polícia Militar – é a sucessora da Aracruz Celulose, que atende pelo nome de Fibria.

Agora esta empresa vem com a história de que a ação policial teve por alvo uma suposta máfia da madeira. Os negros, então, deixaram de ser membros de um bando de delinqüentes – como os classificara o oficial da PM que comandou a operação – para se transformar em mafiosos.

Até quando teremos de conviver com absurdos como este?

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