O Rio Grande e o Enem

A autoestima do Rio Grande novamente está sendo desafiada, agora num de nossos mais profundos orgulhos, que sempre foi o alto nível cultural e educacional. Levou tempo para enxergarmos a nossa decadência econômica, política e, por fim, ética. Acabamos por nos conformar, porém não antes de tentar culpar os suspeitos de sempre: os outros.

por Eduardo Lamas. do Zero Hora

Os dados do último Enem, confirmando o que outras avaliações já vinham evidenciando, mostram que o quadro educacional gaúcho é preocupante. Antes, tinham-se apenas percepções, já que a produção de estatísticas educacionais confiáveis é um fenômeno recente. Agora, é possível verificar que o Rio Grande é dos Estados que menos “exportaram” e mais “importaram” estudantes. É certo que o resultado desta “balança comercial” desfavorável não pode constituir a única base para uma crítica, pois de outro lado poderia sinalizar apenas a pouca disposição dos estudantes gaúchos em mudar de Estado, combinada com o poderio dos estudantes paulistas, assentados num alto poder aquisitivo e no melhor sistema educacional do país. O mau desempenho é mais grave na medida em que o ponto de partida gaúcho é privilegiado. Na década de 60, o Estado já tinha um ensino público abrangente e, sobretudo de boa qualidade. Foi pioneiro e bem-sucedido em expandir as escolas para o Interior e quebrar a correlação direta entre vida rural e analfabetismo. O que o Rio Grande tem de diferente no seu sistema educacional que o tem feito perder espaço em relação a outros Estados?

A decadência econômica do Rio Grande a partir da década de 70 restringiu os recursos para os governos investirem em educação, porém a queda na qualidade é muito maior do que poderia ser explicado por isto. Não foi apenas o ensino público que decaiu; o ensino privado também decaiu, embora menos que o público. O mesmo vale para as escolas federais e municipais gaúchas. E mesmo as nossas melhores escolas parecem estar longe do que se poderia denominar de escolas de excelência. Tudo isto denota que o ambiente escolar como um todo se deteriorou.

O problema é mais complexo do que a falta de recursos e salários baixos dos professores. Eis alguns candidatos: aumento da demanda por educação muito maior do que a oferta com qualidade pôde suportar, partidarismo praticado explicitamente nas escolas e perda do espírito meritocrático da comunidade escolar.

O Rio Grande não deve se conformar com mais esta decadência

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