O poeta Luan Luando fala sobre cultura, educação, políticas públicas; revela anseios e as perspectivas para o universo em que vive
por Joseh Silva
Filho de Alzenir de Jesus (a Dona Nega), baiana de Itambé, sertão do estado da Bahia, e de José Felício Meireles da Silva, oriundo de Birigui, interior de São Paulo, Luan de Jesus, de 24 anos, nasceu em Osasco, mas foi criado em Taboão da Serra. É o caçula de três irmãos: Renato de Jesus e Carlos Eduardo de Jesus. Poeta, ator e frequentador assíduo das ações culturais da periferia de São Paulo, ele pode ser considerado patrimônio das quebradas. Onde tem cultura periférica tem Luan Luando.
“Sou da última geração de Taboão que jogou bola na rua de terra e que roubou fruta das árvores.”
Hoje, lamenta, a cidade está verticalizada, os prédios ocuparam o espaço de casas e os comércios tradicionais menores. Luan não se julga um bom jogador de futebol, mas sempre gostou de brincar de bola com os amigos. Lembra que “saía em comboio para jogar no CSU, centro poliesportivo que tinha na região”. Para chegar ao lugar, passava pela escola de capoeira do mestre Marrom, a Senzalinha – do grupo irmãos guerreiros, que continua as atividades até hoje.
Ao passar em frente à escola de capoeira, ele se sentia atraído, mas nunca participou das aulas. No grupo de amigos que saía para jogar futebol havia um, apelidado de Cabelo, que tinha mudado para o bairro havia pouco tempo. Foi ele quem convidou Luan para fazer teatro na Escola Municipal Paulo Freire. Lá conheceu pessoas que o recepcionaram bem: Nei Rodrigues e Valter Costa. Luan tinha 12 anos.
O teatro não foi o primeiro contato de Luan com a cultura. A casa onde cresceu, conta, era um pólo cultural. Sempre havia encontros entre amigos e familiares. Era um lugar festivo, com música e sociabilidade.
No teatro, conforme o tempo passava, os amigos iam saindo do grupo. Ele decidiu ficar. Era um momento de ascensão do teatro, e, paralelo a isso, estourava o movimento de poesia na periferia de São Paulo. “A Cooperifa era no ‘Garajão’. Era 2000 ou 2001”, conta. “Naquela época surgiu o Taboarte, um festival de teatro do Taboão. Éramos um pólo muito forte da cultura paulista, recebíamos diversos grupos do estado”.
Luan viveu intensamente a época em que surgiram vários grupos de teatro na sua região, como a UTT (União Teatral Taboão). Existiam os espetáculos A Lira, Sacra Folia, Anel de Magalão. Também conheceu muitas pessoas, mas algumas ele diz serem especiais, e aponta Sérgio Carozzi como uma delas: “no segundo dia de aula ele me passou um livro do Paulo Freire”.
“O bom do teatro é que força a gente ler”. Ele conta que, na escola, não tinha vontade de ler, e que a sua inserção no teatro e a forma de trabalho de alguns educadores o levaram a gostar de livros. “O Carozzi foi cara fundamental para o meu desenvolvimento, ele que me apresentou Paulo Freire e Eduardo Galeano. Sempre me passava textos. Nas aulas de teatro ele extrapolava, sempre falava dos conflitos agrários, movimentos populares e de questões sociais.”
Luan estava envolvido com as aulas de teatro e curioso com os assuntos abordados em sala. Para praticar tudo que o professor teorizava, eles (Luan e Carozzi) foram conhecer uma ocupação no Taboão. “Acabamos ficando no MTST, fazíamos parte da brigada cultural”. Mesmo dentro do Movimento, Luan se enxergava como um acampando e não como militante. Passou pela ocupação Chico Mendes e João Cândido, onde participou da montagem da cozinha até as bases e núcleos de ação.
A primeira peça em que atuou chamava-se Burundanga, de Luís Alberto de Abreu. O espetáculo durou dois anos. Era uma peça de uma hora e meia e ele tinha uma fala de menos de um minuto. Mas sentia-se pleno e preparado. “Normalmente quem recebia um papel bacana era quem sabia ler e eu estava com muita dificuldade, escola pública não ensina a ler”. Na escola em que estudava, havia dias que não tinha aula de português, às vezes nem professor.
Nesse meio tempo conheceu o projeto Doutores da Alegria na ONG Arrastão, pela qual fez um curso de formação de palhaço por dois anos. Estudou teatro e continuava a fazer ações no acampamento, onde foi criada a Trupe Lona Preta. Ele participava do Grupo de teatro Clariô, que considera também um importante espaço de aprendizado.
Luan e o Sarau do Binho. A inserção de Luan no mundo da poesia teve o auxílio de um professor que lecionava história na escola onde ele fazia o terceiro ano do ensino médio. “O professor Henrique era muito maloqueiro, ouvia Rap e foi o que mais me fez absorver informações nas aulas de história”. Luan escrevia poesias e resolveu mostrar uma para o professor, que gostou e o convidou para ir ao Sarau do Binho, que acontecia às segundas-feiras em um bar no Campo Limpo.
O convite foi aceito. Naquele dia, o Poeta Binho falava de um encontro que teve com o Mano Brown. Ficou atento às palavras do poeta e sentiu-se em casa. Passou a frequentar o ambiente, mas, quando ia, a timidez não o deixava declamar. Entretanto, continuou frequentando, observando e aprendendo com os poetas e poetisas que mostravam seus trabalhos: Gaspar, Du gueto, Pilar, Serginho poeta. Foi pegando o ritmo.
A relação com o Sarau do Binho se intensificou quando participou do Donde Miras, caminhada cultural pela América Latina. “Convivemos muito. Nós fomos a pé do Campo Limpo até Curitiba”.
O Donde Miras executou quatro expedições, além de São Paulo / Curitiba, que levou um mês de caminhada. O grupo passou pelo Vale do Ribeira, conheceu várias tribos e comunidades quilombolas. “Nós vimos a região do Vale agredida pelos grandes latifundiários e pelas hidrelétricas. A Votorantim domina esta região, faz diversas barragens. Vimos desde o quilombo do Catumbi, que é menos organizado, mas que tem uma história grandiosa, até o de Ivaporunduva, que é uma comunidade praticamente alternativa. Tivemos noção da guerra do campo, que é diferente da guerra da cidade. Fazendeiros e latifundiários mandam matar. Vimos o alto do Ribeira defendendo o turismo ecológico, que as hidrelétricas queriam construir, e o baixo Ribeira resistindo até a morte, se fosse o caso”.
A expedição litoral foi de São Paulo até Cananéia. Nesta viagem Luan acompanhou menos, mas mais intensamente. “Conheci a aldeia de Tenonde Porã, em Parelheiros. Fiquei apaixonado. Eu era admirador de Marx e de vários revolucionários teóricos: Eduardo Galeano, Neruda. Mas quando conheci uma aldeia indígena notei que o povo vivia aquilo que eles tinham escrito. Lá eu me senti indígena, nós somos indígenas, mas a gente aprende a negar isso. Então não tomamos as dores num caso em que um cara queima um índio. Quando queima um indígena, queimou o nosso irmão, então é guerra. Foi na aldeia que entendi muitos princípios humanos. Fiquei três horas sentado, numa casa de reza, ouvindo os velhos falarem. Junto a mim, estavam todas as crianças da aldeia.
A terceira expedição foi de Barueri até Botucatu. “Foi onde nos deparamos com a parte mais caipira”. E a quarta foi de Santos a Paraty, “onde conhecemos a população caiçara”. Que também vive em uma periferia.
Luan enxerga o Donde Miras como uma forma de levar uma estética da cultura a outros povos. “Havia cidade que o Donde Miras era como um circo. Éramos nós que chegávamos com a arte, poesia e cinema. E a galera se aglomerava e aconteciam cirandas formidáveis. Aconteceu, de fato, um intercâmbio real com o povo. Nada parecido com turismo.
Poeta Luan. Em meio a tantas coisas que aconteciam, Luan não parou de escrever e pesquisar a literatura. Teve a oportunidade de se aprofundar no assunto, quando foi convidado para participar do curso Jovens Poetas, ministrado na Casa das Rosas.
A poesia estava cada vez mais enraizada em seu cotidiano. Ele registrava seus poemas no blog Tutu Literário. Até então não havia pensado na possibilidade de lançar um livro. Até que um dia, despretensiosamente, voltando de uma festa, comentou com Thiago Vinicius e o Rafael Mesquita (ambos da Agência Popular Solano Trindade e do Banco Comunitário União Sampaio), que queria lançar um livro. “Imediatamente eles falaram: demorô vamos lançar. Vamos pegar um financiamento do Banco Comunitário e executar esta ideia”.
No outro dia, curiosamente, a Katia Portes Leão, entrou em contato com Luan para dizer que havia acessado seu blog e o questionou se tinha o interesse em lançar um livro. Luan revelou a ela que no dia anterior havia comentado o assunto com amigos e que isso iria acontecer. Logo em seguida Luan entrou em contato com a Carolina Teixeira, ou Carolzinha, para fazer a proposta de ilustração, que aceitou prontamente.
O grupo estava fechado: Carolzinha na ilustração, a Katia na diagramação, O Banco Comunitário no financiamento e a Agência Solano com a estratégia e estrutura de divulgação. “No primeiro encontro, eu já sabia que o nome do livro seria Manda Busca. Eu soltava muita pipa e o tema tem tudo a ver comigo”.
Com tudo definido e executado o livro ficou pronto pouco depois. São 60 páginas com poemas, uma dedicatória à mãe e um texto sobre Luan, que o define muito bem, escrito por Binho Padial e Suzi Aguiar. “Quando saiu, foi tipo um filho. É um sentimento muito forte. Peguei o livro três vezes e coloquei na mesa. Caralho, saiu o bagulho, saiu, saiu. Puta que pariu, saiu. Fiquei besta, emocionado mesmo”.
No mesmo dia em que Luan se emocionou com o nascimento do livro, ele iria participar do evento A Periferia Mostra Sua Arte, que aconteceria no Bar do Mucho, um lugar inarrável, que fica na região do Inocoop, Campo Limpo. Na programação estava prevista uma ação do Sarau do Binho, onde Luan iria declamar. “Eu estava de terno, e com o livro dentro do bolso interno, mas não ia mostrar para ninguém, até porque tinha um errinho no livro e iríamos corrigir. Então, o Alan da Rosa olhou para o bolso e viu o livro e começou a alastrar. Fiquei tímido pra caramba e o pessoal começou a pedir para ler o livro. Então a Suzi perguntou eu seu gostaria que todos lessem uma poesia. Eu respondi que, antes de mostrar para todos, queria fazer um lançamento. A galera começou a me zoar. Aí todos leram uma poesia. Foi bem intenso. Este acabou sendo o lançamento”.
Luan tem três livros esboçados: o Manda Busca, já publicado, o Rélo, e o Tá na Mão. Mas, com a mente inquieta, surgiu a ideia de fazer mais dois: Mandado, que será no formato de microcontos e um infantil, todos com a perspectiva da pipa. Luan gosta da poesia, mas não se desprende do teatro. Depois de lançar esses livros, quero me dedicar à dramaturgia”.
Visão introspectiva. A periferia vive momentos bons na perspectiva cultural. Entretanto, o avanço se deu (e se dá) porque os próprios coletivos pensam, financiam e executam suas propostas. “Nós que produzimos as nossas coisas. Nós estamos nos reunindo coletivamente e pensando em ações ligadas ao Rap, teatro, poesia, vídeo. Independente de financiamento. Quando surgiu o VAI (Valorização a Iniciativas Culturais), programa da Secretaria Municipal de Cultura, facilitou para muitos grupos, mas dividiu, porque quando não tinha edital nós éramos bem mais unidos, simplesmente pelo fato de não ter, pois sempre utilizamos os mesmo equipamentos, por exemplo. O edital permitiu que comparássemos alguns equipamentos básicos. O edital vem com o intuito de concentrar a produção; ele é muito agressivo, eu sou a favor do financiamento direto, não temos que provar para o estado que a gente faz, e passar por um processo tortuoso, toda uma seleção, sendo que estamos fazendo”. E continua: “se tem gente com fome, dai de comer. Se tem gente sem arte, dai cultura”. Parafraseia, Solano Trindade.
São muitas as ações executadas sem o apoio de editais. Em média, 600 propostas ficam de fora da seleção do VAI todos anos. Um exemplo de iniciativa, que por muitos anos aconteceu sem depender de financiamento governamental, é o Sarau do Binho, que acontecia em um Bar e foi fechado pela prefeitura recentemente, por falta de alvará. “O fechamento do espaço do Sarau do Binho é dolorido. É tipo fechar uma Igreja.”
Apesar de lamentar a ação da prefeitura, Luan acredita que se deve aproveitar o momento para pedir uma casa de cultura Sarau do Binho. “Não podemos esquecer que fomos para o bar porque não tínhamos lugar para expressar a arte. Agora que eles fecharam, temos que exigir um espaço cultural, temos que ter casas de cultura populares. Temos que lutar por uma lei de incentivo direta aos movimentos de cultura da periferia. Deveríamos ter uma lei de fomento aos saraus.”
Em seu entendimento, Luan não enxerga o sarau só como literatura. “Sarau é mais amplo. É de debate, exposição, mostras, conversas. É um espaço de convívio, uma força política inteligente que podemos usar para reivindicar bibliotecas, centros de audiovisual, de artesanato, entre outras coisas.” E vai além: “Temos que escrever as leis de incentivo popular, entregar nas mãos de políticos e exigir que eles aprovem. Então daremos um salto enorme na educação popular. Paulo Freire, onde ele estiver, vai pular de alegria dizendo ‘opa, esses caras ouviu o que eu falei’”.
A visão critica de Luan não esta ligada apenas a questões culturais. Para ele, a educação necessita de investimentos e (por que não?) uma reforma. “Quando eu estudava não tinha tanta grade. Fui na Fundação Casa e há menos grades que a escola pública estadual. O Governo do Estado de São Paulo transformou a escola em presidio. Os professores não tem estrutura física, às vezes, intelectual para ensinar, por uma deficiência da própria academia, que oferece uma formação mentirosa e defasada. Fica difícil ensinar em uma escola que não tem giz, não há um laboratório, uma biblioteca atraente. Quem se forma no terceiro ano não sabe ler. Este também é um sistema de cárcere.”
Os movimentos e coletivos notaram essa realidade das escolas públicas e estão agindo, promovendo saraus dentro delas. Saraus como Cooperifa, Vila Fundão e do Binho, por exemplo, executam estas ações. Outra manifestação importante é o Sarau dos Mesqueteiros que acontece dentro da escola Jornalista Francisco Mesquita, em Ermelino Matarazzo, zona leste da Cidade. “As pessoas estão aprendendo fora da escola. Tudo que tenho de formativo hoje aprendi na rua, e em espaços formativos, nada na escola, e isso é feio.”
Para Luan, a lógica do serviço público é não funcionar. “Enquanto os ditadores não saírem do poder, não teremos uma educação de qualidade. Temos que tirar as grades das escolas. Eu vivia dizendo para os meninos ficarem na escola porque é bom. Agora com que razão eu vou ficar defendendo esta instituição?”, questiona. “A instituição privada ministra uma formação fragmentada. Quem estuda pedagogia em uma universidade de mais acesso normalmente não se aprofunda. Às vezes faz faculdade só por fazer, para se adaptar. Esses professores dificilmente darão aula em uma escola de classe média alta. Estes têm os melhores educadores. Temos uma geração de professores frustrados que não acreditam mais em lecionar.”
Por tantos motivos, Luan afirma ser importante a execução de saraus dentro das escolas. Mesmo sabendo que ela não está preparada para lidar com a autonomia dos alunos, pois, a partir do momento em que eles tomam gosto pelo conhecimento, se tornam questionadores. E a educação ainda é reacionária. Eles estão lá só para ouvir o “mestre” que se posiciona a frente da sala.
Luan é visionário quanto ao rumo da educação na Cidade. “A escola precisa ser tomada pela comunidade. A educação popular tem que ser praticada por esta instituição. A pedagogia deve ser construída pela comunidade. E isso o governo vai ter que entender. A força do Sarau é grande e o foco são as escolas”. Para ele, o sarau nada mais é que uma disciplina da universidade popular. “Quando chegamos à escola temos de educar o aluno e o professor. Muitas vezes os professores não sabem do que estamos falando. Mas eles não veem como algo negativo. Com esta onda de saraus, vai chegar uma época em que, se a estrutura não mudar, os alunos e professores vão fazer manifestações em prol de uma escola de qualidade.”
A militância está presente na fala e nas ações do Luan, mas, para ele, militar é algo que acaba tomando todo seu tempo. “Ficamos tão atolados querendo melhorar a nossa comunidade que perdemos o prazer de viver. Faz tempo que não jogo bola. Fico largado em um domingo, sem fazer nada. Nosso trabalho acabou virando a nossa boemia.”
Mesmo com tantas ações culturais na periferia, Luan sabe que ela é um universo e que estas iniciativas são só uma parte disto. “Há muitos evangélicos, pessoas que só trabalham e tomam sua cerveja, outros querem só ir a um campo e jogar futebol. Temos que se aproximar desta galera, se eles não vêm até nós, vamos levar o que fazemos para eles. Por que não fazer sarau em um campo de várzea? Numa igreja? Não é todo mundo que fica a vontade dentro de um bar”.
O movimento cultural periférica é ousado. As quebradas estão em efervescência. Deixaram de assistir ações culturais no centro porque há muita coisa para prestigiar na periferia.
Os coletivos da periferia estão fazendo ações com foco nas quebradas. Há uma metalinguagem nas produções. Existe valorização da estrutura, do dialeto, e uma forma popular e comunitária de fazer.
É algo vivo e latente. Momento histórico, na perspectiva cultural. No campo da poesia, Luan afirma que “os saraus mudaram a forma de fazer literatura. É um movimento oral. A poesia é viva no papel e na voz. Diferente da poesia de Mario de Andrade e de Drummond, que é belíssima. Mas imagina eles declamando? Como seria? Mas você vê o Luan Luando, o Binho, o Renato Palmares, Toninho Poeta, Serginho Poeta. Que emociona o público, pois quando declamamos, espirramos um pouco da nossa alma. As pessoas ficam muito contagiadas com o Sarau.”
Talvez o segredo para as produções culturais periféricas seja a forma como Luan vê e trata todos que estão à sua volta, como uma família. “E isso é uma família mesmo. Nos preocupamos um com o outro, estamos nos momentos bons e difíceis. Minha mãe faleceu há pouco tempo e fiquei meio atordoado. Vi este acontecimento como uma coisa minha e não quis falar do ocorrido, por isso acabei comunicando só o Binho. Mas quando cheguei ao cemitério, o bando todo estava lá, vi todos encostados no muro me olhando. É uma cena que não esqueço. Fortaleceu muito, todos estavam preocupados comigo. ‘Desanima não, Luan, tamo junto’, diziam. A partir disso, percebi que temos uma família estabelecida. Temos que ficar juntos. É sozinho que a gente morre, e se for para morrer, tem que ser todo mundo junto; e for para sorrir, é todo mundo junto”.
“Se a gente não se organizar, vai vir gente querendo organizar a gente, e vamos virar simplesmente um movimento de artistas que queria falar algumas coisas em determinada época. E, na real, queremos viver num mundo possível. E tem que ser agora, não tem essa que só daqui há 30 anos. Não! Estamos fazendo para melhorar hoje. Temos que viver bem hoje. Temos que viver o presente. Muitos dizem que não tem como, mas vejo que se mudarmos a nós, mudaremos mundo. É importante frisar que a nossa arte tem que servir paritariamente para a gente: povo periférico.”
Entrevista: André Luiz, Joseh Silva e Mara Esteves
Texto: Joseh Silva
Fonte: Carta Capital