O documentário Outra Face, dirigido por Val Benvindo, trata da importância da Noite da Beleza Negra, que celebra há 38 anos a Deusa do Ébano. A exibição é seguida por debate da diretora com Arany Santana, apresentadora do concurso. No final de semana, Dete Lima, diretoria artística do bloco, e a produtora Catarina Lima realizam duas oficinas de turbante, e a dançarina Gabi Cabo Verde celebra o corpo em oficina de dança
Por Mariana Zoboli, para o Portal Geledés

No dia 12 de dezembro (quarta-feira), às 20h, o Itaú Cultural exibe, em programação paralela a Ocupação Ilê Aiyê, o documentário em média-metragem Outra Face, de Val Benvindo, produtora do Ilê Aiyê que fez do filme o seu trabalho de conclusão de curso da graduação em jornalismo, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Após a exibição, a diretora recebe no palco Arany Santana, apresentadora da Noite da Beleza Negra, para uma conversa com público sobre a condição da mulher negra. Já nos dias 15 e 16 (sábado e domingo), acontece às 14h a Oficina de Turbante, e às 16h a oficina de dança Celebre Seu Corpo.
A narrativa de Outra Face aborda a Noite da Beleza Negra e sua importância no resgate da autoestima e no empoderamento da mulher negra. O fio condutor dessa história é o depoimento das Deusas do Ébano, escolhidas em diferentes anos, que falam sobre as transformações implicadas pelo concurso em suas vidas. Reúne também falas de diversos integrantes do Ilê, como dois dos fundadores do bloco, Vovô e Vivaldo Benvindo, de Dete Lima e Arany Santana, e do idealizador do concurso, Sérgio Roberto.
A Noite da Beleza Negra é promovida há 38 anos pelo Ilê Aiyê, que tem 45 anos de trajetória. Para concorrer ao título de Deusa do Ébano, que representa o bloco até o próximo carnaval, “tem que ser negra, conhecer sua história e do Ilê, ter consciência de quem ela é, gostar de dançar e dançar bem e também ter um empoderamento muito forte”, como coloca Dete Lima.
Outro depoimento presente na produção, que sintetiza a importância histórica do evento, é o de Arany Santana: “Com a instituição do concurso Beleza Negra do Ilê Aiyê, começa um processo de afirmação de identidade, da mulher negra em assumir seu padrão de beleza, se achar bonita, se achar rainha”, pontua ela, que é graduada em Letras pela UFBA, professora, atriz e militante do movimento negro.
A primeira versão deste concurso, que leva em conta muito mais do que apenas a beleza estética, foi improvisada com as mulheres mais próximas ao bloco, do bairro do Curuzu, e o ano seguinte, no carnaval de 1976, foi eleita a primeira Rainha do Ilê Aiyê, que desfilou em cima de um carro. A partir daí o evento tomou proporções que vão além do Carnaval ou da escolha de uma musa.
“A gente faz uma Deusa do Ébano até hoje, graças a deus, sem fita métrica. A resposta é para a nossa comunidade mesmo. Para fortalecer o direito e o espaço da gente. A beleza que eu vejo é o fascínio delas. Tudo isso vem como um reforço para que a comunidade negra continue com dignidade”, reforça Sérgio Roberto idealizador da Noite da Beleza Negra, em outro trecho da produção.
Oficinas
Dando continuidade à programação voltada à exaltação da mulher negra, o Itaú Cultural realiza outras duas atividades dos dias 15 e 16 de dezembro (sábado e domingo). Nos dois dias, às 14h, acontece a Oficina de Turbante. Nela, a história dos turbantes do Ilê Aiyê é contada por Dete Lima e Catarina Lima, respectivamente diretora artística e produtora do bloco.
Durante a atividade, serão apresentadas algumas técnicas de montagem dos famosos turbantes do Ilê Aiyê. Os participantes receberão, ainda, um kit para confeccionarem os próprios turbantes depois da oficina, aperfeiçoando a técnica.
Às 16h, a dançarina Gabi Cabo Verde realiza a oficina de dança Celebre seu Corpo. A atividade possui como referência todas as danças de diásporas negras, como o dancehall, soca, afrobeats e funk.
O objetivo é desenvolver, por meio dos conceitos das danças africanas, a noção de corporeidade, com o intuito de aprimorar o auto-conhecimento, a auto-estima, a sociabilidade e o respeito ao próximo. Como pontua Gabi Cabo Verde, a dança é uma produção de conhecimento que vai além do entretenimento.
Mini bios das convidadas
Val Benvindo é jornalista de formação pela Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA), e produtora, por experiência empírica, há 10 anos, quando começou a atuar na produção do Bloco Afro Ilê Aiyê. Produz também Na Rédea Curta – A Peça, a jornalista e digital influencer Maíra Azevedo, conhecida nas redes como Tia Má e sua peça Tia Má com a Língua Solta, além das programações culturais do Bloco Afro Ilê Aiyê, com destaque para a Noite da Beleza Negra, onde é escolhida a Rainha do bloco, a Deusa do Ébano.
Gabi Cabo Verde é ançarina há mais de 10 anos, Gabriela Cabo Verde nasceu em Angola, mas foi naturalizada no Brasil. Ela cresceu e viveu no Rio de Janeiro e agora reside em São Paulo. Começou seus estudos na dança aos 11 anos nas danças afro-brasileiras e urbanas. Trabalha com os estilos: Afrobeats Kuduro, Dancehall e Soca. É dançarina, professora de dança e afro coach do Afrovibe, modalidade francesa que mistura o fitness class com as danças africanas. Desenvolveu o projeto Celebre seu Corpo – Oficina de dança, que usa a dança como ferramenta para o empoderamento corporal. Trabalhou com artistas nacionais como BNegão, Elza Soares, Preta Gil e Racionais Mc, com o coletivo musical Boiler Room, foi dançarina oficial da Skol nas olimpíadas 2016 e coreografou para campanhas de marcas de moda como Melissa e Três.
Arany Santana é baiana, nascida em Amargosa, gestora, professora, atriz, apresentadora da Beleza Negra do Ilê Aiyê há 32 anos, ex-secretária municipal da Reparação, ex-secretária do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza do Estado e atual secretária de Cultura do Estado. Com histórico atrelado à cultura e militância étnica que resiste há anos. Arany Santana é diretora licenciada do Ilê Aiyê, mais antigo movimento negro do Brasil; e co-fundadora do Movimento Negro Contra a Discriminação Racial (hoje Movimento Negro Unificado). Como educadora, tem uma trajetória voltada para a alfabetização de adultos iletrados, a arte-educação e o ensino de cultura africana. Atuou em filmes de cineastas importantes na história do cinema brasileiro, como no A Idade da Terra, de Glauber Rocha, Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro, A Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, Capitães de Areia, de Cecília Amado e Pau Brasil, de Fernando Belens. Arany participou de 18 espetáculos teatrais, a exemplo de Baile Pastoril, Cordel Vida e Verso e Castro Alves. Em televisão apresentou, em 88 e 90, o programa de televisão Beleza Black, na TV Itapoan e trabalhou na minissérie Mãe de Santo, da Rede Manchete.
SERVIÇO
Dia 12 de dezembro, quarta-feira
Às 20h
Outra Face
Duração do filme: 35 minutos
Classificação indicativa: livre
Sala Vermelha (70 lugares)
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: duas horas antes do evento | com direito a um acompanhante
Público não preferencial: uma hora antes do evento | um ingresso por pessoa
Dias 15 e 16 de dezembro, sábado e domingo
Às 14h
Oficina de turbante
Duração do filme: 90 minutos
Classificação indicativa: livre
Sala Multiúso (40 lugares)
Entrada gratuita
Inscrições: 30 minutos antes do início da oficina
Dias 15 e 16 de dezembro, sábado e domingo
Às 16h
Oficina de dança Celebre seu Corpo
Duração do filme: 90 minutos
Classificação indicativa: livre
Sala Multiúso (30 lugares)
Entrada gratuita
Inscrições: 30 minutos antes do início da oficina
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1777
Acesso para pessoas com deficiência física
Ar condicionado
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 12
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
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