Projeto Escola de Música irá formar no Curiaú a primeira Orquestra Quilombola do Brasil

Aos 10 anos de idade, Iago do Carmo dos Santos, estudante da Escola José Bonifácio, no Curiaú, teve seu primeiro contato com um violino na manhã do ultimo sábado, 19, e foi atração à primeira vista. A ocasião foi o lançamento oficial do projeto da Associação Educacional e Cultural Essência (AECE), que vai formar a primeira Orquestra Quilombola do Brasil com crianças e jovens estudantes afrodescendentes do Curiaú, comunidade com aproximadamente 1.600 moradores, localizada a 12 quilômetros do centro da capital do Amapá, Macapá.

Curiaú é o primeiro polo de ação do “Projeto Sistema de Bandas e Orquestras do Estado do Amapá – Escola de Música”, selecionado no edital da empresa de telefonia Oi, com fomentação no valor de R$ 160 mil, e apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

O lançamento ocorreu durante a Festa da Família na Escola José Bonifácio, num clima de integração social, com prestação de serviços, brincadeiras, café da manhã e almoço, promovido pela diretoria da instituição, com apoio da Secretaria de Estado da Educação (Seed), do Centro de Referência em Atendimento à Mulher (Cram), dentre outros parceiros.

Harmonia

Foi um sábado movimentado e a emoção ficou por conta do concerto da Orquestra Meninos do Immes (projeto de responsabilidade social do Instituto Macapaense de Ensino Superior, ideia fomentada pela direção daquele instituto). Um concerto totalmente didático, mas em perfeita harmonia das caixas de Marabaixo com os delicados instrumentos eruditos de corda, sopro e percussão. Os meninos da comunidade deram um show, mas eles querem mais.

A partir da próxima semana a rotina da José Bonifácio vai ser investida de musicalidade, pois a AECE, através de sua coordenação pedagógica, irá traçar o planejamento para dar início às aulas – de musicalização, por meio do canto coral e de instrumentos, tais como violino, viola, violoncelo, flauta doce, contrabaixo e instrumentos de percussão. A proposta é trabalhar durante seis meses com crianças e jovens da comunidade. Todos podem participar, desde que dispostos a se dedicar.

A presidente da AECE e coordenadora do projeto, Heloisa Batista, diz que esse período é suficiente para que os alunos estejam aptos a participar de uma orquestra estudantil. “O maestro Elias Sampaio será o regente da Orquestra Quilombola e ele também é um dos responsáveis pelo projeto. Trabalhamos com a Orquestra do Immes e, pela nossa experiência, seis meses são suficientes para darmos início a uma formação de orquestra estudantil. No Curiaú esse tempo pode até reduzir, pois conhecemos a musicalidade daquele povo. As crianças tocam suas caixas de Marabaixo e têm ouvido bom para acompanhar as notas, só precisam sistematizar o conhecimento adquirido de forma empírica para que possam ter uma harmonia total entre os instrumentos de orquestra e os instrumentos da cultura tradicional local”, explica.

Se depender do pequeno Iago, essa tarefa será prazerosa. “Acho tão bacana fazer cultura. Aqui sabemos bater nossas caixas, mas me apaixonei pelo violino, o som é lindo e ele é bonito”, diz com entusiasmo, arriscando os seus primeiros arranhões no instrumento.

Como Iago, Solano Marques, 11 anos, também ficou encantado com a possibilidade de poder tocar e uma orquestra e fez questão de pegar em todos os instrumentos, mas gostou mesmo foi do violoncelo, por sinal, bem maior que ele. “Nossa! É muito grande. Quero aprender a tocar em todos”.

Divisor de águas

Para os pais, o projeto será um divisor de águas para as crianças. “Já posso ver meu filho tocando em grandes eventos. Vou incentivar para que ele aprenda cada vez mais. A música modifica as pessoas e tenho certeza de que esse projeto pode abrir muitas portas para nossas crianças e para a própria comunidade do Curiaú. Dá para imaginar uma formação toda de negros? É muito orgulho pra gente”, diz cheia de orgulho Patrícia da Paixão, mãe de Everton, que também já garantiu sua participação no projeto.

A expectativa é de que ainda em dezembro de 2012 seja realizado o primeiro concerto da 1ª Orquestra Quilombola do Brasil. “Daqui do Curiaú sairão novos músicos, solistas e a formação de um coral único. É uma honra estar envolvido nesse processo tão singular, reunindo culturas tão fortes e ao mesmo tempo tão diferentes. Isso é cultura, sempre em plena modificação e extrema criatividade, para o melhor”, finaliza Elias Sampaio, coordenador do projeto Sistema de Bandas e Orquestras do Estado do Amapá – Escola de Música.

Rita Torrinha/Secult

 

 

 

Fonte: Correa Neto 

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