Racismo contra os negros aumenta entre os líbios

Imigrantes subsaarianos são vistos como apoiadores de Kadafi, que trazia mercenários de outras partes da África


Negros, nascidos ou não na Líbia, tornaram-se vítimas colaterais da revolução que derrubou Muamar Kadafi. Em razão da participação violenta de mercenários vindos da África subsaariana entre os efetivos do regime agora deposto, negros estão sofrendo ostensivamente discriminação e agressões. Ontem, a reportagem do Estado não pôde seguir um comboio do Conselho Nacional de Transição (CNT) porque um negro estava no interior do veículo.

O episódio aconteceu por volta de 13 horas, na periferia de Misrata, nas imediações do quartel general local do conselho. A reportagem do Estado estava acompanhada de um homem que auxiliava na negociação para visitar a câmara fria em que o corpo do ditador era preservado, no Mercado Tunisiano. De forma abrupta, uma das autoridades do CNT local veio até o veículo e informou em árabe que o acordo teria de ser adiado até que o homem negro não estivesse acompanhando o grupo.

“O homem que me abordou não disse boas coisas”, limitou-se a dizer o homem, que pediu para não ser identificado e se recusou a traduzir as ofensas que ouviu. “Eu vivo há 40 anos em Misrata. Tenho mulher e filhos aqui. Eles nasceram aqui. É muito duro.”

A advertência de que o preconceito racial dos líbios cresceu com o conflito vêm sendo feita por organizações não-governamentais, que denunciaram ao longo dos últimos meses agressões e supostas execuções de negros, sob o pretexto de que seriam mercenários.

O problema cresceu em 2011 desde que Kadafi começou a recrutar mercenários em países como Niger, Mali, Somália, Mauritânia e Chade para combater ao lado das forças leais. Reputados como sanguinários, esses mercenários tornaram-se alvo em especial da ação dos milicianos. Em Misrata, cidade que sofreu com o sítio promovido pelos militares kadafistas ao longo de três meses, sendo bombardeada dia e noite, a restrição aos negros parece ser ainda maior.

Durante o começo da revolução, imigrantes da África subsaariana que tentavam chegar ao norte do continente para atravessar o Mar Mediterrâneo e chegar à Europa foram confundidos com mercenários. Há relatos de execuções sumárias, mas esses testemunhos até hoje não foram apurados de forma independente.

 

 

Fonte: Itamaraty

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