ENSAIO: Da universidade brasileira como parte do mundo bagunçado e sujo no qual raça importa: reflexões sobre a literatura negra nos espaços formais de pensamentos

RESUMO

O presente ensaio visa traçar algumas considerações a respeito da Literatura Negra nos espaços formais do pensar crítico-literário e social brasileiro a partir das observações traçadas por Miriam Alves em seu texto para o Cadernos Negro, de 2002. Em especial, o não reconhecimento desta literatura como legítima por parte de alguns grupos acadêmicos. Debruçando-se sobre a fala de Zilá Bernd, Miriam Alves fala a respeito da planificação que a crítica gaúcha faz das produções literárias dos grupos discriminados: mulheres e pretos. Na mesma linha buscamos problematizar este discurso das tradicionais teoria e crítica da literatura, dentro dos espaços formais do pensar, buscando evidenciar como nossa área de interesse, os estudos literários, não se aparta da sociedade brasileira quando se trata de minorar a emancipação dos pretos. A análise aqui proposta é norteada pelos pensamentos de Stuart Hall, sobre raça como “significante flutuante”, e as considerações de John H. Stanfield II, sobre o “branco puro” e o “negro puro” em Sociedades de Legado de Escravidão. No intuito de salientar a singularidade da sociedade brasileira, discorremos brevemente sobre a questão da subalternidade, a partir do ensaio de Gayatri Spivak sobre o “subalterno”. Por fim, lançamo-nos à reflexão sobre a corporeidade e a relação do corpo preto dentro dos espaços formais de construção do pensar: a universidade pública brasileira, no momento atual, em que a sociedade se depara com uma nova e mais potente onda de empoderamento.

Por Edylene Daniel Severiano para o Portal Geledés 

Enquanto escritora, a gente mexe com o que está dentro das pessoas, você é a fala escarrada do silêncio, do ocultado. Mas não é o ocultado dentro das casas, é o ocultado dentro de você. (Miriam Alves, 2016)

A citação acima, longe de um ser meramente ilustrativa, consiste na fala de Miriam Alves, e sintetiza o espírito deste ensaio. Escritora, poetisa, preta, brasileira, que atua há mais de 30 anos, não só na literatura, mas também na militância, Miriam Alves nos convida a pensar a Literatura Negra a partir do ocultado, daquele silenciado pelo sistema de opressão patriarcal, no caso brasileiro, o sistema escravista.

A partir das considerações de Roland Barthes sobre escritura (BARTHES, s/d), entendemos a Literatura Negra como forma de subverter um dado sistema linguístico, por meio da própria língua. Como afirma Barthes, em seu celebre texto, Aula (BARTHES, s/d), a língua longe de ser libertária é impositiva; fascista, obriga dizer. No entanto, é por meio dela que se diz aquilo que não poderia ser dito, e já não pode há muito ser silenciado, no caso dos Escritores Negros de Literatura Negra, o estar no mundo preto, na sociedade brasileira.

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DA UNIVERSIDADE BRASILEIRA COMO PARTE DO MUNDO GRANDE, BAGUNÇADO E SUJO NO QUAL RAÇA IMPORTA_ REFLEXÕES SOBRE A LITERATURA NEGRA NOS ESPAÇOS FORMAIS DE PENSAMENTO

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