Quem busca parceiros sexuais em aplicativos de celular tem um risco maior de se expor a uma doença sexualmente transmissível (DST) do que se o encontro acontecer em bar, festa ou até mesmo em site de relacionamento. Essa é a principal conclusão de um estudo publicado no jornal médico Sexually Transmitted Infections, revelado na semana passada pelo jornal britânico Daily Mail.
JAIRO BOUER
No momento em que os aplicativos que usam o GPS do celular para avisar sobre “candidatos potenciais” que estão por perto ganham popularidade, principalmente entre os mais jovens, esse risco elevado pode ser um problema. O Tinder, por exemplo, cresce de forma impressionante a cada dia. O Grindr (um dos mais antigos, voltado ao público gay) tinha seis milhões de usuários em quase 200 países, em 2013.
A pesquisa acompanhou 7 mil homens gays que se consultaram em uma clínica de saúde sexual em Los Angeles, nos Estados Unidos, de 2011 a 2013. Um terço deles só conheceu parceiros pessoalmente, 30% combinaram encontros reais com outros online e 36% só usaram aplicativos de celular. Os aplicativos eram mais utilizados pelos mais jovens e pelas pessoas com melhor nível educacional.
Em média, os encontros pelos aplicativos expunham os homens a um risco 23% maior de se contaminar por gonorreia e 35% maior de se contaminar por clamídia. Não houve diferença em relação à sífilis ou ao HIV entre os usuários dos celulares.
Se, por um lado, as novas tecnologias permitem uma revolução, que está facilitando o encontro de milhões de pessoa ao redor do mundo, por outro, elas podem expor mais gente às DSTs. Ao conhecer alguém de forma muito rápida e fazer sexo quase por impulso, o risco de não se proteger pode ser maior. O uso de drogas recreativas entre os usuários de aplicativos também foi mais alto, o que também pode agravar falhas na prevenção.
Prevenção. Por falar em revolução no campo da sexualidade, artigo do fim de maio do jornal The New York Times traz uma reflexão interessante sobre os efeitos que o Truvada (medicamento contra a aids), recentemente aprovado nos Estados Unidos para uso preventivo, pode ter no comportamento sexual das pessoas.
O uso profilático consiste na ingestão diária de uma pílula antiviral por quem não está contaminado pelo HIV, mas que se expõe seguidamente a risco (por exemplo, sexo com múltiplos parceiros, sem proteção). As evidências mostram que pode ocorrer uma redução do risco de contaminação pelo vírus de até 99%.
O próprio esquema atual de tratamento dos soropositivos reduz drasticamente a transmissão. O resultado preliminar de um novo estudo europeu, que está acompanhando quase 800 casais gays e heterossexuais sorodiscordantes (um é portador do vírus e o outro não) e em que o parceiro infectado está tomando corretamente os medicamentos, trouxe um resultado animador. Em mais de 30 mil contatos sexuais, ao longo de dois anos, não houve um único caso de transmissão.
Da mesma forma que as revoluções sexuais trazidas pela pílula, para as mulheres, nos anos 1960, e depois pelo Viagra e seus similares, para os homens, no fim dos anos 1990, condicionaram mudanças de comportamento e o aparecimento de novos desafios do ponto de vista da prevenção em saúde sexual, o surgimento de terapias altamente eficazes (talvez até mais eficazes que uma vacina) na prevenção da infecção pelo vírus HIV pode fazer com que as pessoas usem ainda menos os preservativos e se exponham mais a outras DSTs.
Em tempos em que o sexo está disponível, de forma fácil e rápida, graças à revolução tecnológica, a poucos toques na tela de um smartphone, em que a aids poderá ser evitada com uma pílula diária e em que a gestação indesejada pode ser driblada com a pílula do dia seguinte, os esforços de prevenção para fazer com que as pessoas continuem a se cuidar e a usar camisinha vão ter de ser redobrados.
Por último, os fabricantes de alguns dos medicamentos facilitadores da ereção (responsáveis pela revolução na vida sexual dos homens mais velhos) planejam solicitar às agências reguladoras dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e da Europa que eles sejam vendidos, em breve, sem receita médica. Bom lembrar que, apesar de baixo risco, eles podem não ser seguros para cardíacos e para quem usa alguns remédios para o coração e para redução da pressão arterial. Seria importante que alguém, além da bula, alertasse os homens mais velhos sobre esses riscos.
JAIRO BOUER É PSIQUIATRA
Fonte: Estadão