Só a democracia abre trilhas para o progresso social

(Foto: João Godinho)

Ao ver gente nas ruas pedindo a volta da monarquia e da ditadura militar, e lamentando que a ditadura não tenha matado todos nós, que lutamos contra ela, o que bate fundo em quem ama a liberdade e considera a democracia o único horizonte político para a cidadania plena e o único caminho que permite a luta das pessoas despossuídas pelo direito de viver com dignidade é que há algo fora de foco no fazer política partidária em nosso país.

Por Fátima Oliveira, do O Tempo

Arrisco-me a dizer que nossos governantes maiores (Presidente da República e governos estaduais) não têm cumprido um dever essencial: vincar os valores republicanos nos corações e nas mentes da nossa gente. Tarefa dificílima, pois na conjuntura de permanente luta de classes, que se entrecruza com outras opressões, como a de gênero e a racial/étnica, e sob o domínio ideológico da burguesia, a democracia como realidade não é fácil de ser fortalecida e consolidada.
Num país capitalista, governos que não são 100% puro-sangue das classes dominantes (leia-se: ricos) locais e mundiais, que ensaiam (eu disse: ensaiam!) compromissos mínimos em minorar as opressões (de classe, de gênero e racial/étnica), jamais serão do agrado dos ricos, que são contra toda e qualquer política social que diminua a miséria e supere a vida de gado pé-duro que o povo leva.

A história já demonstrou que governos de tal naipe são sempre perseguidos. Por que imaginar que no Brasil seria diferente? E o argumento é único: acusação de corrupção – seja real ou imaginária –, um problema endêmico mundial, que obrigou a ONU a elaborar a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (31.10.2003), da qual o Brasil é signatário e é um dos países que mais criaram instrumentos para coibir e apurar corrupção.

Faço minhas as palavras de Janio de Freitas, em nome da democracia: “O que está sob ataque não é mandato algum, são as regras da democracia e, portanto, a própria democracia que se vinha construindo. “Não há disfarce capaz de encobrir o propósito difundido por falsos democratas instalados no Congresso e em meios de comunicação: reverter a decisão eleitoral para a Presidência sem respeitar as exigências e regras para tanto fixadas pela Constituição e pela democracia” (“FSP”, 16.8.2015).

Repito: o PT é o único partido socialdemocrata do Brasil, e não aquele que tem a social-democracia no nome. O grande propósito do PT sempre foi gerenciar a crise do capitalismo. Só se enganou quem quis. O modo petista de governar é um gerenciamento mais humanizado das mazelas do capitalismo via políticas públicas. O PT se credenciou como um caminho para mais democracia e com o compromisso de melhorar a vida do povo. E até agora não “amarelou” demasiadamente, desde que assumiu a Presidência da República em 2003.

E é por não ter “amarelado” que as ideias da grande burguesia nacional e aquilo de que falávamos tanto, o imperialismo (sim, está vivíssimo), em suas diferentes vestimentas – desde o liberalismo selvagem ao fascismo e ao fundamentalismo religioso –, materializam-se em desejo de expurgar Dilma Rousseff, legitimamente eleita, do governo. Tudo devidamente embalado com vieses sexistas inimagináveis.

A burguesia internacional sempre soube que o PT nem socialista é, mas esperneia para tomar o poder e entregá-lo aos seus capachos da burguesia nacional, porque não tem repertório suficiente nem para conviver com o progresso social. Cazuza acertou: “A burguesia fede!”.

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