SP admite ter de usar professor reprovado

Estado anuncia que, por dificuldades em preencher vagas, poderá ter de requisitar docentes temporários com nota vermelha

A prova foi adotada em 2009 pela gestão Serra; na época, o governo disse que iria barrar quem não atingisse a nota mínima

FÁBIO TAKAHASHI

A Secretaria da Educação de SP anunciou ontem que poderá atribuir aulas a professores reprovados em seu processo de seleção para docentes temporários para a educação básica.
Dos temporários que já trabalharam na sala de aula (pouco menos da metade do total de docentes), 40% foram reprovados -não conseguiram acertar metade das 80 questões.
Segundo o secretário da Educação, Paulo Renato Souza, haverá dificuldades para preencher vagas em algumas escolas, principalmente para as matérias de física e matemática.
Ao justificar a possibilidade de convocar professores reprovados, o secretário afirmou que “a nossa prioridade é garantir aulas aos alunos”.
Os sindicatos do setor dizem que é quase certo que os abaixo da nota de corte sejam convocados, principalmente para atuar na periferia das cidades da Grande SP, onde o desempenho dos alunos já é mais baixo.
Ainda não é possível saber quantos dos reprovados terão de lecionar, pois o processo de distribuição de aulas não começou -primeiro escolhem os concursados; os temporários preenchem as aulas que faltam.
Apesar do ano passado ter terminado com 80 mil temporários e cerca de 130 mil concursados, a rede chegou a precisar de mais de 100 mil não concursados (para suprir casos como licença e aposentadoria).
Além dos temporários, o exame também foi feito por outros candidatos -total de 182 mil, dos quais 48% não atingiram a nota de corte. O total de aprovados foi de 94 mil.

Novo discurso
A prova para seleção de temporários foi adotada no ano passado pelo governo José Serra (PSDB). Antes, o critério para a contratação eram os diplomas do candidato e o tempo de serviço.
Ao lançar o projeto, o governo afirmou que quem não atingisse a nota mínima não poderia lecionar. A possibilidade de reprovados darem aulas neste ano letivo foi anunciada ontem.
Paulo Renato afirmou que o corpo docente deste ano está melhor. A explicação do secretário é que foi “uma inovação” classificar docentes com base em seus conhecimentos.
Disse ainda que, caso tenha de contratar os reprovados, serão selecionados os de melhor desempenho. Além disso, a pasta irá criar cursos a distância para capacitação específica em física e matemática.

 

Um atenuante para o desempenho dos docentes, afirma Paulo Renato, foi a dificuldade das provas, consideradas por ele como “complexas e longas”.
O presidente do CPP (um dos sindicatos dos docentes), José Maria Cancelliero, teve avaliação semelhante. O exame foi feito pela Vunesp, que aplica o vestibular da Unesp.
Além de permitir que reprovados lecionem, o governo alterou outro critério. Inicialmente, só iria valer a nota da prova. Após negociar com sindicatos, a pasta decidiu levar em conta o tempo de magistério (que dá bônus de até 20% na nota).

MEMÓRIA: EM PROVA ANTERIOR, 1.500 CANDIDATOS NÃO ACERTARAM NADA

O governo de São Paulo chegou a aplicar um exame para selecionar professores temporários para o último ano letivo, em que 1.500 docentes zeraram. A seleção, porém, foi barrada pela Justiça, que entendeu que não havia base legal para a avaliação. Após a decisão judicial, o governo decidiu enviar projeto de lei à Assembleia Legislativa, que aprovou a proposta no ano passado

Pesquisador diz que resultado é constrangedor

 

 

Pesquisador da USP e especialista em avaliação, Ocimar Alavarse classificou como “constrangedor” o resultado do exame aplicado aos temporários.

 

FOLHA – Qual a sua avaliação?
OCIMAR ALAVARSE – É constrangedor, considerando que a prova tenha sido bem feita. Muitos professores não conseguiram acertar nem metade das questões, que já é pouco. Mas o grande problema é o número de temporários. Precisa fazer concurso, para que o professor seja estável, se fixe na escola. É uma vergonha que metade seja temporária [o governo anunciou concurso para 10 mil vagas].

FOLHA – Como melhorar o corpo docente da rede?
ALAVARSE – Na faculdade, precisa exigir mais. O Estado deveria assumir isso, com curso público de quatro ou cinco anos, dando bolsa. É questão de prioridade. A maioria hoje estuda em curso privado, noturno e de três anos.
Para os que já estão na rede, é preciso dar cursos. Como SP está fazendo isso? Com materiais feitos de uma hora para outra, cheios de erros, e ainda acusando o professor de não saber nada.

Fonte: Folha de São Paulo

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