Torço pelo Andrade amanhã

por: Edson Lopes Cardoso



O técnico Andrade do Flamengo afirmou que “está ajudando a abrir as portas para os negros no Brasil, inclusive para muitos ex-jogadores negros que brilharam no campo e poderiam ter contribuído mais ainda comandando equipes no Brasil” ( O Globo, 5/12/09, p. 47).

Tostão, em sua coluna na Folha de S. Paulo, já havia registrado na edição de 16/11/2009 (p. D3) que se o Flamengo for campeão será uma vitória contra “o preconceito de que os técnicos negros não teriam capacidade intelectual de comandar um grupo”.

A porta vislumbrada por Andrade abre-se com largueza para abarcar atividades outras, não relacionadas ao futebol. Seguramente, a repercussão de eventual conquista do campeonato brasileiro por um clube que mobiliza legiões de torcedores em todo o país alcança espaços diversificados e pode ajudar a reorientar representações próprias de uma cultura profundamente racista.

A expressão “poderiam ter contribuído” refere-se àquela “atrofia da vida” de que fala Gould e dá testemunho da distância que separa o Brasil real, atrofiado pelo racismo, de um país possível, livre de coerções castradoras de talentos e vocações.

Um técnico campeão é o sujeito reconhecido por suas aptidões intelectuais. No caso de Andrade, condenado a auxiliar, com humildade e discrição, houve uma reviravolta significativa. O técnico do Flamengo está consciente de que o seu êxito convida a problematizar todos os lugares destinados ao negro, e não apenas no futebol.

Uma vitória do Flamengo não vai nos fazer romper com padrões culturais do racismo. Mas abre brechas na percepção da massa de torcedores para que revejam criticamente a definição autoritária dos lugares inacessíveis ao negro, permitindo-lhes julgar e avaliar as dimensões estreitas, fechadas, subalternas do seu próprio cotidiano.

Meu time é o Bahia, que paga seus pecados na série B, mas amanhã vou torcer pelo Andrade e o Flamengo.

Fonte:Ìrohin

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