Ufes decide processar professor por declarações racistas

Um processo administrativo foi aberto pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) contra o professor Manoel Luiz Malaguti Barcellos Pancinha. Titular do Departamento de Economia, ele é acusado de dar declarações racistas durante uma aula para a turma do segundo período de Ciências Sociais, no início do último mês de novembro.

Por Elton Roza, do Folha do ES

De acordo com a assessoria de imprensa da universidade, o reitor Reinaldo Centoducatte assinou portaria instituindo uma comissão para conduzir um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Será esta equipe que irá julgar a conduta do professor.

A comissão será formada por dois professores com titulação equivalente à do acusado e um servidor técnico-administrativo. Durante o processo, informou a assessoria, “serão garantidos aos envolvidos os princípios jurídicos do exercício do contraditório (o direito de apresentar sua versão) e da ampla defesa”.

Silêncio

“Não tenho nada a dizer, realmente, à imprensa. Vai ser um procedimento normal”, disse o professor ao se referir ao processo aberto contra ele pela universidade.

As manifestações de Malaguti em sala de aula tiveram repercussão nacional. Ele chegou a ser afastado, pela própria universidade, de todas as suas atividades.

O professor relatou que as declarações foram feitas durante uma aula. “No meio de uma discussão sobre cotas e sobre o sistema educacional, coloquei que se tivesse que escolher entre dois médicos, um branco e um negro com o mesmo currículo, escolheria um branco”, disse

Malaguti argumentou, na época, que estudantes negros não tiveram as mesmas condições de estudo que universitários brancos e que, por isso, não conseguiriam acompanhar as aulas na universidade. Assim, o professor seria obrigado a reduzir o “nível” de suas aulas para atender aos cotistas.

As declarações do professor repercutiram em vários segmentos. O desembargador William Silva, do Tribunal de Justiça, chegou a fazer uma representação ao Ministério Público Federal que, por sua vez, decidiu abrir uma investigação criminal.

Protestos de estudantes também foram realizados. Após a repercussão, Malaguti decidiu pedir desculpas: “Eu peço desculpas a quem se sentiu ofendido”, disse, assinalando que foi ameaçado e que estava sendo crucificado pela opinião pública.

O professor tem mestrado e doutorado em Economia, se especializou nos últimos 30 anos em questões sociais e na desigualdade, tendo atuado na Universidade Federal da Paraíba e na Universidade de Lisboa, além da Ufes.

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